No finalzinho do mês passado perdi o meu querido amigo Bilo. Amigo sempre apaixonado por Acorizal onde nasceu, viveu, cantou e morreu. Tinha uma veia de poeta e deixou escrito nas paredes de soa casa e nas paredes as suas ideias desenhadas em letra caprichada.
Bilo foi prefeito de Acorizal no fim da década de 1970. Tinha o espírito inquieto. Sonhador e idealista. Gostava de conversar com ele. Longas conversas e muita filosofia desde as coisas mais simples até as mais complicadas. Na verdade, aprendia com ele. Sua visão era curta e simples sobre tudo. Mas realíssima.
Duas coisas me vem à mente ao escrever este artigo. Uma era a sua mania de tratar as pessoas: “caboclo”. Todo mundo era caboclo. Falava de um jeito que ele mesmo falaria. Outra coisa era a sua invenção: a pinga “puxa assunto”. Tinha um pequeno barril pra servir aos amigos. Era uma mistura de raiz de bugre, uma planta típica do cerrado. Fazia um xarope dela e misturava com a pinga. Ficava ótimo. Ele tinha razão. Esquentava qualquer conversa.
Dois frequentadores assíduos de sua casa e apreciadores da “puxa assunto” éramos eu e o Osvaldo Sobrinho. Ambos amigos de longa data. Nossas conversas tinham o dom de não terem preocupação com o tempo. Espichavam sem tema. Suas lembranças do passado político e do modo de viver nas fazendas dali. Especialmente a Fazenda Boa Vista que herdou de seu pai. Mais tarde vendeu-a pro Osvaldo Sobrinho, mas enterrou lá o seu coração.
Fora da política não deixou de ser uma referência em Acorizal. Ouvia pedidos de orientação e respondia: “caboclo.....” e falava da sua leitura sobre temas amplos com a sabedoria da sua encantadora simplicidade. O tempo foi passando e os anos se acumulando. Lúcido sempre. De repente, foi avisando da sua partida. Aos 87 nos deixou.
Fui lá me despedir dele, da dona Zezira, a eterna companheira, e da família. Coração ficou muito triste. Foi-se um amigo. Mas foi junto a boa prosa, a “puxa assunto” e as memórias que ele, Osvaldo e eu tanto cultivávamos. Nunca nos faltou assunto. Por maior que seja a sua maravilhosa lembrança, nunca mais seremos chamados por ele no jeito carinhoso: “caboclo...”!
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso.
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