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Pecuária e o Pantanal

  • Artigo por Alfredo da Mota Menezes
  • 17/09/2020 09:09:10
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            Incêndio no Pantanal acabou despertando para outras realidades que envolvem esse bioma. Começo pela pecuária.

            Segundo os pantaneiros, até uns 30 anos atrás tinham mais de 600 mil cabeças de gado no Pantanal de Mato Grosso. Hoje caiu para cerca de 200 mil, de acordo com o número mais recente de vacinação na região. Fazendas estão sendo abandonadas, mato crescendo, nada de cuidados como antes. Será que a diminuição da criação de gado naquela área ajudou no aumento de incêndios?

            Claro que o momento é único. Uma seca que não se via por décadas. Mas, além disso, se a pecuária estivesse forte como antes ajudaria a diminuir os incêndios?

            Vejamos alguns números. O Pantanal no Brasil tem 140 mil quilômetros, 65% no Mato Grosso do Sul e 35% em Mato Grosso. No estado vizinho a pecuária no Pantanal é crescente.

            Em Corumbá a pecuária de corte tem quase dois milhões de animais. Em Aquidauana, outro munícipio pantaneiro, tem perto de 800 mil cabeças. Somente nesses dois, sem contar outros naquele Pantanal, teria 14 vezes mais gado do que em todo Pantanal de MT. 

            Os incêndios atingiram 2.3 milhões de hectares, diz o PrevFogo do Ibama. Aqui 1.2 milhões de hectares, lá 1.1 milhões. Num território muito maior, se teve menos destruição pelo incêndio do que no Pantanal daqui.

             Será que havendo mais gado naquele bioma no MS ajudou a preservar mais do que num lugar em crescente abandono na criação de gado? Podem ter outras variantes, mas fiquemos nessa da pecuária.

            Com mais gado, se tem mais trabalho do dono em limpar os pastos e outros lugares de sua fazenda. O abandono, mato seco e amontoado, não ajudariam mais nos incêndios? Se o pantaneiro usasse suas experiências de séculos na região não ajudaria a preservá-la mais?

            No Mato Grosso do Sul tem programas governamentais para preservar a pecuária no Pantanal como aquele de cortar em 50% o ICMS do gado criado ali se, claro, obedecer regras defesa do meio ambiente.

            Associado a isso se diz que a preservação da cultura pantaneira é maior no estado vizinho do que aqui. Comida, danças, folclores, roupas, linguagem são mantidas mais que em Mato Grosso. Isso tudo atrai também mais os turistas.

            Mato Grosso do Sul está entre os dez estados brasileiros, e o primeiro do Centro Oeste, que mais recebe turistas estrangeiros, aqueles que gastam mais. E a maior parte desse turista vai para visitar o Pantanal.

            Volto à pecuária na região. Será que no MS, por ela ser crescente, estariam levando vantagens? Tem algum estudo sobre isso? Não seria hora de se fazer uma discussão sobre essa realidade? Não seria momento de ouvir o que dizem os pantaneiros e os pecuaristas do Pantanal? E ouvir também pecuaristas e estudiosos do Pantanal do MS?

            Um debate conjunto de pantaneiros, ONGs ambientalistas, universidades, poder público sobre essa realidade. Ganha no aumento do gado de corte e ainda ajudaria a cultura local e o turismo. Talvez seja hora de um debate maior sobre esse assunto.

 

Alfredo da Mota Menezes é Analista Político.

E-mail: pox@terra.com.br   Site: www.alfredomenezes.com



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