• Cuiabá, 21 de Novembro - 00:00:00

O agro das famílias

            O agronegócio mato-grossense surgiu efetivamente em 1994 com a primeira grande safra: 4,5 milhões de toneladas de soja. De lá pra cá definiu-se como o embaixador da nossa economia frente ao Brasil e ao mundo. Produz muito, exporta muito e rende dividendos na balança comercial. Mas não frequenta diariamente a mesa dos mato-grossenses e nem dos brasileiros. Seu papel é exportador.

            Levantamentos apontam cerca de 141 mil famílias vivendo em propriedades rurais. Elas representam 20% da população estadual. Lá se processa uma agricultura e pecuária históricas com forte carga tradicional e cultural. Mas funcionam muito no esforço de quem vive nesse tipo de propriedade.

            A Empresa Mato-grossense de Pesquisa e Extensão Rural – Empaer construiu uma história nessa área. Porém, a partir da década de 1990 acabou se inviabilizando pra captar recursos e atender maciçamente, por conta de fusões com outras empresas do setor. Dívidas vieram junto e se incorporaram à conta da empresa. Esse é um ponto a se resolver pelas razões apontadas abaixo:

1-      Li semana passada pesquisa do Rabobank, holandês, que tem um histórico de financiamentos rurais no Brasil, incluindo Mato Grosso. Diz que após a pandemia do corona vírus os hábitos alimentares mundiais vão mudar. A preferência será dos produtos naturais e dos orgânicos.

2-      Ao produtor rural falta uma série de apoios nas áreas de preparo de projetos, articulação de crédito, assistência técnica, assistência na comercialização, estudos de mercado, apoio em áreas como a irrigação e na formação de cooperativas.

3-      Atualmente Mato Grosso comercializa R$ 521 milhões anuais em frutas, verduras de legumes. Desse valor, R$ 294 milhões são importados. Chegamos ao absurdo de importar mandioca de Rondônia e farinha de mandioca do Paraná.

4-      Essa produção importada deixa de ser produzida em Mato Grosso exatamente por falta de apoio efetivo ao produtor familiar para que ele transforme sua atividade pulverizada no agronegócio familiar, organizado e capitalizado.

5-      O home-office durante a pandemia aproximou as pessoas da gastronomia e dos produtos confiáveis. É uma oportunidade inigualável pra construção do agro familiar.

Falta apenas que o governo de Mato Grosso perceba essa oportunidade de produção com arrecadação de impostos local, com movimentação da economia e elevação da renda.

Finalmente, registro a fuga dos jovens pras cidades. Empobrece o agro familiar e distorcem o social com desvirtuamentos conhecidos.

Concluo acreditando que o agro familiar precisará um passo poderoso na direção da correção de desigualdades, geração de riqueza rural, justamente na nova onda de volta ao natural.

 

Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso.

onofreribeiro@onofreribeiro.com.br   www.onofreribeiro.com.br.



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