Segundo Heráclito de Éfeso, “nenhum homem pode banhar-se duas vezes no mesmo rio, pois na segunda vez o rio já não é o mesmo, nem tão pouco o homem”.
Se um homem entrar em um rio, ao sair, nem o homem nem o rio serão mais os mesmos. Agora, imagina a sociedade que entrou obrigatoriamente em uma pandemia (COVID 19). Quando sairmos dela, e vamos sair, é certo que nem o mundo e nem as pessoas serão mais as mesmas. E as instituições, como estarão? Irão resistir? Que tipo de cidadão teremos no pós coronavírus?
As mudanças trazem muitas lições, construídas, na maioria das vezes, sobre perdas e dores inimagináveis. Por isso muitos dizem que o sol é mais bonito após a tempestade.
Algumas coisas que ainda persistiam em estar entre nós já não fazia sentido há muito tempo. Sejam elas materiais, tipo os donos do mundo que acumulam fortunas, bancos agindo como bandidos e tendo lucros abusivos, instituições públicas com o único sentido de empregar e atrapalhar a vida das pessoas, ou mesmo coisas do comportamento, tais como preconceitos, racismo, homofobia, machismo e discriminações em geral, fora um conjunto de aspectos éticos. Tomara que o vírus os levem embora para sempre. Não deixarão saudades.
É previsível que muita coisa vai acontecer, mas não dá para saber ainda o que e como. Só é possível cantar ao som do que Lulu Santos escreveu: “Nada do que foi será. De novo do jeito que já foi um dia. Tudo passa, tudo sempre passará. A vida vem em ondas. Como um mar. Num indo e vindo infinito. Tudo que se vê não é igual ao que a gente viu há um segundo. Tudo muda o tempo todo no mundo.
O mundo antes do coronavirus unia as pessoas muito mais pela infelicidade, pelo protesto, pelo descontentamento do que pelas afinidades ou empatia. Há décadas estamos nos “não me toques e mimimis”. O coronavirus está fazendo as pessoas se enxergarem novamente, por fora e por dentro. Tanto que o número de casos de suicídio caiu no mundo vertiginosamente. As pessoas recebem atenção e voltam a ter o sentimento de pertencimento.
Há sim várias crises; saúde, econômica, política... Mas a crise mais aguda é de questionamento da própria existência. Mas “não adianta fugir. Nem mentir pra si mesmo agora. Há tanta vida lá fora. Aqui dentro sempre”.
João Edison é Analista Político, Professor Universitário em Mato Grosso.
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