• Cuiabá, 02 de Julho - 00:00:00

Culpa versus Responsabilidade

Nossa cultura, em boa parte esculpida pela tradição judaico-cristã, trabalha com a categoria de culpa como sendo parte inerente da vida do ser humano. 

Não fosse assim, Jesus não teria morrido na cruz para remir nossas dívidas, impagáveis por nós mesmos, devedores falidos, perante um credor de tudo o que temos, inclusive do sopro da vida, a divindade.

Enfim, além de ser algo que nos aprisiona e castiga, a culpa, tem status de onipotência, pois não é paga aqui na Terra, e, sim, na metafísica, perante os deuses, ou um deus, o que eleva nossas falhas até os Céus, sendo que pouco ou nada podemos fazer, senão crer que nossas orações de arrependimento foram ouvidas e acolhidas. 

Logo dizemos para nós mesmos que não iremos cometer tal falha novamente, sob pena de os pedidos à espiritualidade perder a eficácia, por sermos reincidentes. 

Aqui um ponto nevrálgico, pensamos ser possível estabelecer o futuro antes de ele ser vivido, sem erros. Como é impossível, ficamos num emaranhado de sentimento de culpa e não avançamos. 

Por que, qual é o preço do erro cometido? É mensurável, no tempo e no espaço, material e espiritualmente?

Enfim, de outro lado, como antítese, antônimo, positivo, enquanto o anterior é negativo, há a responsabilidade. 

Ela não é reativa, tampouco gera uma dívida impagável, um pecado original, que só os deuses podem conceder o indulto. 

Sua dinâmica é proativa, avalia os supostos danos causados, procura repará-los e sabe que durante a vida eventualmente o mesmo ato pode ser praticado, seja por circunstâncias e contigências, seja pela condição humana que não admite perfeição e procura tratar das coisas no aqui e agora, não em crenças e dogmas religiosos.

A responsabilidade nos retira da infantilidade para a vida adulta e evita que fiquemos remoendo fatos pretéritos que já passaram. Ela mora no que pode ser feito, doravante, sem pietísmo e dependência dos deuses para enfrentar e transformar a realidade.

A culpa gera uma prisão. A responsabilidade promove a liberdade. E o amor só existe ao ar livre, não em gaiolas.

 

Paulo Lemos é advogado e escritor, entre outras coisas.

paulolemosadvocacia@gmail.com



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