• Cuiabá, 02 de Julho - 00:00:00

Cenário Econômico 2020

O ano de 2020 começa sob o signo do otimismo. Os indicadores econômicos sinalizam reaquecimento da atividade econômica após a longa recessão de 2014 a 2016 e os três últimos anos frustrantes (2017, 18 e 19). No início de cada um desses anos, todos os analistas do mercado apostaram em crescimentos acima de 2,7% e o PIB cresceu pouco acima de 1%. O ano que termina é visto muito mais pelos sinais de retomada do crescimento emitidos nos dois últimos trimestres do que pelo pífio crescimento previsto de 1,3%.

Entendo ser mais provável para a economia do Brasil em 2020 o cenário básico de crescimento do PIB de 2,5%, com inflação próxima de 3,65%, taxa básica de juros de 4.5% e o câmbio flutuando próximo da relação US$ 1,00/R$ 4,20.

Puxado pelo aumento do consumo, turbinado pela liberação de recursos do FGTS e leve aumento do emprego, o último semestre forte de 2019 impulsionará os dois primeiros trimestres deste ano. Em minhas análises, assumo a hipótese de que o Banco Central vai manter a taxa básica de juros em 4,5% durante todo o ano de 2020, monitorando cautelosamente os efeitos da aceleração do consumo das famílias sobre a inflação.

A queda da taxa Selic  já proporciona efeitos positivos no mercado de crédito, com destaques para o crédito imobiliário e de consumo de bens duráveis. A taxa básica de juros baixa, combinada com inflação abaixo de 4%, também já promove um movimento de redirecionamento de recursos até então investidos em renda fixa com ganhos indexados à inflação para o mercado de ações e investimentos em novos negócios ou expansão de outros já existentes. Somente no último trimestre de 2019, o número de investidores individuais em ações da Bovespa (B3) saltou de pouco mais de 800 mil para quase dois milhões de investidores. Esse cenário deve motivar muitas empresas a captarem recursos no mercado de capitais por meio das ofertas públicas de ações, a forma mais barata que uma empresa dispõe para se capitalizar e expandir sua produção. O consumo das famílias e o investimento estão acelerados, reduzindo o nível de ociosidade das fábricas, proporcionando os primeiros sinais de recuperação industrial, com destaque para a indústria de transformação.

Falta ainda atrairmos de volta os investidores estrangeiros que estão muito céticos diante das incertezas jurídicas e institucionais causados pelas trapalhadas políticas de membros da administração federal que ora flertam com o retorno da ditadura, ora emitem sinais de que sustentabilidade e proteção ambiental não estão no radar de prioridades das lideranças do país. O investidor externo teme que tais fatos possam gerar restrições comerciais dos grandes mercados, diminuindo as exportações brasileiras o que pode frustrar suas expectativas de retorno financeiro. Por outro lado, o protagonismo assumido pelo renovado congresso nacional na aprovação da reforma previdenciária e na condução da reforma tributária ajuda a melhorar o ambiente de negócios no mercado interno e internacional.

A aprovação da reforma da previdência e outras reformas microeconômicas sinalizam que o time econômico do presidente Jair Bolsonaro conseguiu reduzir o risco fiscal e conter a trajetória crescente dos gastos públicos. As ações contracionistas do governo fizeram com que o capital privado assumisse o protagonismo do reaquecimento da atividade econômica.

Vejo o cenário internacional como a principal ameaça para o crescimento econômico do Brasil em 2020. As tensões entre Estados Unidos e China, as duas maiores economias do planeta, podem reduzir o desempenho econômico global, chegando até aqui. No entanto, nesta virada de ano, o próprio presidente americano anunciou que a fase 1 do acordo com a China será assinado em 15 de janeiro próximo.

Outro fator de risco é a ameaça de uma nova moratória da dívida Argentina. A medida extrema pode aumentar o nível de desconfiança das economias sul-americanas, além de travar as exportações do Brasil para aquele país que é o nosso terceiro maior parceiro no comércio externo.

Como diriam os velhos sábios da minha Alto Paraguai, no balanço de riscos, o novo ano surge no radar com mais sinais de céu de brigadeiro que de chuvas e trovoadas.

 

Vivaldo Lopes é economista formado pela UFMT, onde lecionou na Faculdade de Economia.  É pós-graduado em  MBA Gestão Financeira Empresarial-FIA/USP  (vivaldo@uol.com.br).



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