Tem desmatamento, em menor quantidade que décadas anterior mais tem, tem agrotóxico mas infinitamente menos agressivo que os usados anteriormente, tem fumaça e tem fogo, mas nada comparável com os últimos anos do século passado e nem com o que ocorria na Amazônia até 2010 deste século. O que tem de novo são histerias de velhas oligarquias revestida de inconformismo e discriminação deslavada com percas do monopólio do Status Quo de centro do saber e da cultura.
A colonização do território brasileiro iniciou pela orla marítima e a partir daí se constituiu o povoamento e fincou as principais cidades. Foram nestas cercanias de até 150km onde bate as ondas que também habitaram os mandatários de toda a nação. É ali que fincaram os homens do dinheiro e das mais diversas verdades absolutas cujo saber, glamour, requinte e cultura eram prerrogativas geográfica de nascimento.
Estou falando de um tempo onde a cidade de Ribeirão Preto (300 Km da cidade de São Paulo e 400 distante do mar) era interior do Brasil. O estado do Paraná era sertão. Sair da cidade do Rio de Janeiro e ir para Niterói (18 Km da capital) era fazer uma viagem ao interior. O Estado de Minas Gerais era o centro do Brasil, pois nem mar tem. Quem tem dúvidas sobre o que escrevo recomendo visitar nossa literatura até o final do século XX que está lá para provar o que agora cito.
Também são destes “centros’ costeiros o conceito que tudo aquilo que não pega maresia e nem come marisco é porque cheira “bosta de boi”. São ignorantes, pobres e desconhecem o mundo. Fruto um tanto cultivado pelo estigma do “Jeca tatu”, ou a turma do sitio do pica pau amarelo das obras de Monteiro Lobato dentre outros.
Pior que isso é saber que a elite pensante e autoritária durante quase 500 anos sempre tratou o “resto” do Brasil como os sem cultura, sem riquezas, sem educação... Ou seja, braçais ignorantes e úteis que serviam apenas para cuidar de suas pomposas propriedades nos sertões do Brasil, quase sempre áreas improdutivas que gerava status nas conversas nas rodas de conversas enquanto os mesmos banhavam-se nas ondas do mar ou na cultura contemporânea de seu tempo. Saber versus ignorância e a lei da mais valia aplicadas a todos que não respiram as brisas do mar. Tenho uma fazenda em Goiás e outra em Mato Grosso, nada mais chique e pomposo que isso!
Acontece que o “Brasil”, aquele Brasil que o próprio “país do mar” sempre deu as costas e ignorou, cresceu, desenvolveu, compra carro de luxo, tem diploma universitário, agora viaja o mundo, é antenado, domina as tecnologias de ponta e seus filhos (estudantes) já fazem intercâmbio.
O clima do nós contra eles virou terra fértil para que os “nutelas do asfalto e praia”, filhos dos velhos coronéis quatrocentões, pudessem se enfurecer com o Brasil “caboclo”. Uma vez que o velho roceiro agora é o senhor e a senhora do agro e do mundo.
Nem tudo no agro são os Maggi, e os próprios Maggi hoje já vivem de indústrias, empresas de exportações e até portos. O que chamamos de agro na verdade é o produtor rural que vende desde um litro de leite (a maioria 80%) e até os fazendeiros de alta tecnologia no campo (que são minoria). Tem problemas? Tem e muitos inclusive de desmatamento, queimadas e ambientais em geral e tem que ser corrigidos. Mas não é por isso que esta gente nutelada do asfalto está descontente.
Não são as queimadas e as fumaças que incomodam. O que incomoda são os fazendeiros com diplomas de agronomia, medicina, engenharia, arquitetura, advocacia e falando duas ou três línguas. O que está pegando não é o agrotóxico, que hoje é menos tóxico que os antigos. O que pega são os carrões, as viagens e até os “aviõezinhos” adquiridos por estes “jecas’ de outrora.
O que dói mesmo nos senhores e senhoras “cultos e engajados” do litoral é que esta gente bronzeada pelo sol do cerrado e malhada pela labuta com o campo conseguiu avançar. Os jecas não precisam mais de seus conhecimentos e nem de suas benesses, pois os aeroportos internacionais do Rio e de São Paulo servem apenas como ponto de conexão para ondo quiserem ir, inclusive para o exterior. Os velhos escravocratas perderam! Perderam o glamour, perderam status e estão perdendo dinheiro.
Então, o que revolta não é o gado, o porco e a galinha produzidos pelo agricultor. O que revolta é saber que sua venda é feita diretamente ao mundo sem passar pelas mãos dos inteligentíssimos atravessadores da paulista e burocratas cariocas. O que incomoda não é a soja que se produz no cerrado. O que incomoda mesmo é o empobrecimento e falta de espaço para os ex sabichões colocarem seus pseudo e pobres produtos culturais recheados de coitadismos e mimimis.
Na verdade, é o Brasil do mar revoltado com quem viveu e cresceu despercebidamente nas suas costas e agora tem vida própria. O “patinho feio” discriminado, explorado e abandonado cresceu e já tem vida própria. Este Brasil que dá certo não precisa mais das verdades enlatadas e pasteurizadas dos encastelados “cheira mar”. Portanto não é só fumaça existe aí muita revoltado litorânea. Não sei você mas eu não vou mais a praia deles porque eles não merecem!
João Edisom de Souza é Articulista, Professor de Ciências Política, Consultor Político, Gestor de Comunicação, Imagem e Crise, Comentarista político da rádio Jovem Pan, jornal da manhã.
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