• Cuiabá, 21 de Novembro - 00:00:00

Falta Discussão

         Há uma magia no mundo das palavras. Descobri-lo já é algo sensacional. Imagine poder adentrá-lo e desfrutar-se dele! É simplesmente maravilhoso. Os olhos da criança brilham, a satisfação do adulto se agiganta. Ambos veem a si próprios como pessoas especiais. Tão especiais que passam a ser capazes de identificar o sentido de cada um dos termos empregados, compreender a mensagem trazida por eles e ir além de sua literalidade, pois o deixa com poder de ler nas entrelinhas. Tarefa nada fácil. Papel do leitor sujeito, diria Cipriano Luckesi, em um dos capítulos (Leitura como Leitura de Mundo) de seu livro “Fazer Universidade: uma proposta metodológica”. Uma vez que somente ele, o leitor sujeito, teria condição de dialogar, questionar e discutir com o autor do texto, ainda que este não esteja fisicamente a sua frente, mas sim suas ideias e o que ele pensa a respeito de um dado assunto. Daí a necessidade, inicialmente, de descobrir o tema abordado no texto ou livro; em seguida, identificar a problematização; imediatamente depois, a ideia central, e, por fim, a argumentação. São passos necessários. Só, então, é que se pode comentar e criticar o que se leu, ouviu (ouvinte) e assistiu (expectador ou telespectador). A pressa, a correria por vezes inexplicável, faz com que muita gente ignore os tais passos. Desse modo, sua opinião, certamente importante, deixa de ser opinião e fique no achismo. Este, ao contrário daquele, não carece de fundamentação, da racionalidade e do pensamento, pois se prende tão somente no papel de torcedor.  

E o torcedor, por motivos óbvios, evita o debate, e, quando se vê dentro de uma discussão, procura logo desqualificar a pessoa do seu interlocutor. Age assim por lhe faltar conteúdo, conhecimento sobre um dado assunto. Aliás, não é por acaso que o acusar alguém de esquerdopata se tornou tão presente nas redes sociais e nos grupos de whatsapp. Acusa-se para não enfrentar a ideia e a opinião do outro. É uma pena! Pena porque o momento vivido requer outra postura, a saber: o de discutir. Exigência do Estado democrático. Tanto que o tal Estado só se instala, viabiliza-se e se fortalece com a participação de todos. Todos imbuídos de um mesmo propósito, o bem do Estado e da Nação. Bem que só será garantido com o respeito às posições diferentes e as diferenças, pois são estas, e não o discurso único, que proporcionará o reconstruir, o avançar e o fortalecimento do país.

Aliás, “é dever de todo patriota afogar os ódios ocasionados pelas lutas políticas e empregar todas as suas forças para cooperar na grandeza obra da reconstrução nacional”. Esta recomendação, (e) leitor, não foi escrita agora, nem pronunciada neste ano. Mas, isto sim no dia 28 de março de 1890, por Francisco Alves Corrêa, por ocasião da fundação do Partido Nacional em Mato Grosso. Recomendação velha, porém tão oportuna e atual. Pois muita gente, até movida pelo presidente da República, insiste em continuar no palanque eleitoral de 2018, como se este não tivesse que ser demolido, e suas tábuas jogadas fora, bem longe do caminho e da direção que se quer dar ao país.

Um país de dimensões continentais, de variadas realidades e dominado pela pluralidade. Embora exista quem gostaria de uniformizá-lo ou de empastelá-lo. No passado recente, já o quiseram fazer isso. Tentaram e até insistiram. Felizmente, tal força retrograda e atrasada, fora superada. Venceu o plural. Plural que é formado por vários singulares. Tanto naquela época quanto no presente, e será assim no futuro, por mais que se tenha alguém com intenção de esconder o que não se pode jamais esconder, a pluralidade da sociedade, assim como é plural a sua realidade. Realidades complexas, e que precisam ser entendidas, analisadas e discutidas, mas sem o rosário do discurso único e dos ataques a quem se posiciona de maneira diferente. É isto.

 

Lourembergue Alves é professor universitário e estudioso do jogo político.

E-mail: Lou.alves@uol.com.br.     



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