A história da formação do Estado brasileiro não é uma história de dignidade plena. Foi sempre uma construção baseada na péssima herança política de Portugal. De tombo em tombo passou pelo Império, outro arranjo conveniente, e chegou à República cuja proclamação se comemora hoje.
Em 1988 a Constituição promulgada construída entre 1987 e 1988, chegamos a um instrumento político batizado de “constituição cidadã”, pelo deputado federal do PMDB e presidente da Câmara dos Deputados na época, Ulysses Guimarães. Foi um período longo de discussões, marcado por fortíssimos lobbies em torno de milhares de interesses. Na época o Congresso Nacional não era melhor do que o atual. Havia mais pudor do que hoje, mas o senso ético era tão ruim quanto agora. O serviço público foi de todos o maior lobby. Juntaram-se todos os interesses difusos de todos os lados e se construíram os capítulos corporativos que hoje marcam o Estado brasileiro como gastador, grande, inchado e de péssimo funcionamento. Mas com excelentes direitos, privilégios e remunerações.
Em 2014, último ano do primeiro mandato de Dilma Rousseff o país já dava sinais de disfuncionamento. Em irresponsável campanha política ela só fez piorar as coisas. Recordo-me que participava em outubro de 2014 do seminário “PAEX – Parceiros da Excelência”, na Fundação Dom Cabral, em Nova Lima-MG. Os palestrantes mostravam cenários aterrorizantes. Mesmo assim, ela se reelegeu pra ficar um ano e pouco no segundo mandato. Os cenários se confirmaram e hoje chegamos ao limite da disfunção do Estado brasileiro. Incapaz, gastador, ineficiente, corrupto. E as corporações que se criaram a partir da “constituição cidadã” sangram o Estado de maneira cruel. Seja pela ineficiência, sejam pelos privilégios, seja pela corrupção desenfreada que vagueia por dentro de todas elas.
Esse cenário de fantasmas alcança todos os estados federados e mina as finanças de todos os municípios brasileiros. Um país está mergulhado num poço muito difícil de ser resgatado. Mexer na estrutura do Estado implica em enfrentar as corporações em todos os níveis. Como? São gigantes de poder. Contudo, ou se mexe, se recompõe a fisionomia do Estado e das unidades da federação e municípios, ou o país perde um dos momentos mais férteis de transformações no mundo. Voltarei ao assunto.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
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