Em 2015 comecei um trabalho com mulheres vítimas de violência doméstica, começou com um artigo e virou uma pagina no facebook: www.facebook.com/quandooamoreramedo/, um grupo de whats e conversas corajosas, amigas e cheias de cumplicidade.
Triste saber que somos muitas, bom saber que juntas podemos nos reconstruir. São tantas histórias, tanto sofrimento, uma série de incertezas que desembocam sempre numa mesma pergunta, por que?
Hoje vejo como foi importante quebrar o silêncio e contar para o mundo os horrores que passei nas mãos daquele que um dia prometeu me amar. Sem ele, sem as surras descabidas, sem o sexo forçado, sem o controle financeiro, sem o cárcere privado, sem as constantes humilhações, hoje eu não teria condições de ajudar aquelas que ainda estão presas numa relação doentia ou ainda aquelas que começam a se libertar.
A minha receita para a superação é transformar cada ofensa, cada humilhação, cada soco, em determinação, foco e força. Aprendi que a demonstração de fraquezaou de dor fazmuito bem para o ego deles e nunca o sensibilizam porque são incapazes de de sentir e amar. Então peguei aquele limão triste e doloroso e fiz uma bela e deliciosa limonada, e aqui esta a parte interessante disso tudo, se eu consegui você vai conseguir também.
Tudo parte desse princípio, saber que é possível sim recomeçar e saiba que do outro lado da montanha existe uma vida novinha em folha te esperando. No meu caso um novo marido carinhoso e amável, uma filha linda e querida, um cachorro apaixonado por mim e sucesso profissional, enfim, tudo que ele disse que eu jamais conseguiria.
Eu quero te dizer algumas coisas que com o tempo vão fazer todo sentido. Você pode, você é capaz, você é especial, você merece ser amada, você é linda, você é inteligente. Nada e nem ninguém que fale o contrário disso tudo merece sua atenção.
Sei que olhar para frente e seguir não é fácil, mas é possível. Saber que ainda existem muitas de nós precisando de uma palavra, de um apoio ou de um oi na madrugada me anima a continuar, me impulsiona a querer cada vez mais.
Agora não sou só eu, somo nós, somos muitas querendo o mesmo, ser feliz.
Sirlei Theis é Advogada Pública e especialista em Gestão Pública
Foi vítima de violência doméstica entre os anos de 1997 e 2006
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