Nelson Rodrigues no auge da sua ironia escreveu “A pátria de chuteiras”, uma coletânea de crônicas sobre a paixão brasileira pelo futebol. No primeiro livro, o aludido escritor mostrava como o Brasil superou o complexo de vira-lata alimentado pela derrota na copa de 1950, com as brilhantes vitórias nas Copas de 1958, 1962 e 1970.
As crônicas de "A pátria de chuteiras" se estendem até 1978, quando o Brasil voltou a conhecer a derrota e, para desgosto de Nelson, readquiriu o 'complexo de vira-lata'.
Pois bem, em ano de Copa do Mundo, é comum todos saberem o nome dos onze jogadores que representaram o futebol penta campeão.
Todavia, na última semana na oportunidade do julgamento do pedido de habeas corpus impetrado à favor de Luís Inácio, a TV JUSTIÇA teve uma audiência invejável.
Nas ruas, através dos aparelhos celulares, nos bares, nas casas, no trabalho, enfim, todos apostando como aquele ou aquela Ministra iria votar sobre o caso em questão.
Independente de quem estava torcendo para quem, o fato é que para cada voto dado era um misto de comemoração ou frustração, ou seja, todos sabem o nome de cada um dos Ministros da Suprema Corte, mais do que os onze jogadores que certamente irão representar a seleção brasileira na Copa que acontecerá daqui dois meses.
O certo é que com o avanço tecnológico e principalmente cultural, o brasileiro começou a entender como funciona o julgamento perante um Tribunal.
Aliás, é importante dizer que todas as sessões do Pleno do STF são transmitidas ao vivo e trazem julgamentos de questões relevantes para toda a sociedade, dentre elas as questões de ordem tributária, que em sua grande maioria, tem o condão de atingir todos os contribuintes.
Nesse contexto, a publicidade dos julgamentos dos Tribunais, principalmente do STF, é um avanço democrático que faz com que a população tenha acesso ao entendimento de cada um dos julgadores.
Trata-se da garantia constitucional da publicidade dos atos emanados dos Poderes da República.
Assim, podemos dizer, parafraseando Nelson Rodrigues, que o Brasil é também uma Pátria de Togas.
Victor Humberto Maizman é Advogado e Consultor Jurídico Tributário, Professor em Direito Tributário, ex-Membro do Conselho de Contribuintes do Estado de Mato Grosso e do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais da Receita Federal/CARF.
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