Falar em insegurança e em violência no Rio de Janeiro em pleno 2018 é o mesmo que voltar no tempo e encontrar os mesmos cadáveres apelidados de “presunto” nos jornais cariocas sangrentos dos anos 1950, 1960, 1970, 1980, 1990 e de hoje. Violência marca o Rio de Janeiro desde sempre. No Rio sempre se matou muito.
A partir da mudança da capital pra Brasília, o estado do Rio empobreceu lentamente e suas lideranças políticas não planejaram o futuro. É este aí. Aos poucos os morros se consolidaram como um Estado à parte dentro do seu mundo. Lá no asfalto outro mundo elitizado, mas acuado. O acordo era o morro não descer pro asfalto.
Mas depois dos 1990 a garotada da classe média do asfalto começou a consumir cocaína em quantidades crescentes e subiu o morro. O mercado levou os traficantes do morro fazerem “delivery” no asfalto. Começou uma perigosa convivência que terminou na atual confusão. O morro não cabe mais no morro. O asfalto não tem pra onde expandir.
Os dois mundos se encontraram de maneira torta. Agora não dá mais pra separá-los. Nem o Exército com os seus canhões e helicópteros. A população das duas áreas vivem num “apartheid” simulado sem um fim sequer imaginado. As duas bandas não querem o fim do atual estado de coisas. Ambas se beneficiam dele.
Porém o o cenário não é exclusividade do Rio. Está espalhado em todo o Brasil. Pelos 27 estados. Os seguidos equívocos no tratamento da violência urbana se misturaram com os equivocados sistemas de crescimento econômico. Crescer significou deixar multidões pra trás à margem da sociedade. Elas se organizaram em facções criminosas e em facções não oficializadas. Ambas formadas por gente deserdada do desenvolvimento.
Vejo o Exército no Rio de Janeiro e não enxergo futuro nisso. A questão não está nas armas dos militares e nem dos traficantes. Muito menos na ganância dos “colarinhos brancos” financiadores do crime. Eles estão encastelados em sólidos gabinetes do Judiciário, da política, dos empresários, nos comandos da Polícia Militar e Civil, além dos gabinetes palacianos. Todos contaminados por essa estranha ligação das pontas sociais e institucionais opostas da antiga capital do Brasil.
Encerro essa pessimista visão da segurança no Brasil com a advertência de que combater o crime no país não será nas delegacias, nos batalhões, nos quartéis, dentro das viaturas policiais e nas penitenciárias. Nem na política atual. Estará nos bancos escolares. Isso pode levar pelo menos 20 anos. Até lá...
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso.
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