O medo tomou conta do gênero feminino em 2017, segundo Eliane Brum in El País. Porém, nem tudo foi retrocesso. Importantes fatos ocorreram, revelando que as mulheres estão prontas para o embate, se necessário for.
A preocupação assolou, no ano que passou. Vivemos situações terríveis, com gosto de derrota aos direitos das mulheres. Todavia, a realidade mostrou que em se cuidando de direitos humanos, retroceder fica quase impossível.
Músicas com contexto feminista, sites, hashtags, youtubers e a mídia em geral, deixou evidente o quanto é difícil a desconstrução de direitos já alcançados. Pronunciar palavras agressivas às mulheres, disfarçadas de "cantadas", recebeu por elas outro tratamento.
E foi assim no ano que passou. Dizer qualquer coisa como "gostosa" para uma jovem, é, nos dias atuais, pedir para receber em troca um "te liga". E não adianta tentar explicar se cuidar de carinho, porquanto, é assédio mesmo.
E cada vez que o homem tentou esclarecer as suas atitudes agressivas, ficou pior. Resta a eles a compreensão de que o mundo mudou, ou melhor, evoluiu.
A adequação é o que se espera. Não há qualquer complacência com atitudes maldosas, disfarçadas de "bondades" ou "bem querer".
Não é possível ejacular em mulheres nos metrôs, ônibus, aviões, ou qualquer outro meio de transporte. Não é possível passar as mãos nas partes íntimas femininas nas ruas ou corredores. Não é possível dar "tapinhas inocentes". Não é possível olhares que despem.
Não é possível tirar para fora da calça as partes reservadas e ostentá-las como troféu. Não é possível emitir comentários sexuais em locais públicos. Não é possível abraçar efusivamente como se quisesse algo mais. Não é possível encostar para um cumprimento lambendo o rosto da mulher. Não é possível o assédio sexual no ambiente de trabalho. Muito deixou de ser possível...
A facilidade de mobilização pelas redes sociais fez destruir, romper, detonar, costumes machistas presenciados cotidianamente. E quando os grupos de mulheres passaram a conversar relatando os fatos do dia-a-dia, percebeu-se que a sonoridade move a natureza feminina.
O ano de 2017, nos EUA, começou com a marcha das mulheres contra o presidente Trump, terminando com a derrocada dos abusadores de Hollywood. Em "terras brasilis" não foi diferente. Ainda que superpoderosos ou autoridades, as máscaras despencam.
Não é aceitável assediar, abusar, estuprar ou cantar. A passos lentos, as brasileiras rompem o silêncio. Redações de jornais, hospitais, poder público, universidades, coxias, nada mais é inalcançável para as mulheres. Elas, agora, não se calarão.
O feminismo traça tessituras encampadas pelo movimento negro e LGBTQ, e avança. Fica complicado para o homem branco e heterossexual compreender que já tem que dividir poder e privilégios.
É o término do autoconsentimento do homem sobre a mulher, que dantes era visível e produzido pelo preconceito, silêncio, e, domínio.
O direito de macho o acompanhava desde o nascimento, juntamente com o órgão sexual. É fácil ganhar poder, o difícil é dividir.
Não pode mais: bater em mulher; assediar e abusar de mulheres; violentar mulheres. Com o consentimento, tudo pode. Sem o consentimento ou com vício, nada pode. Se em qualquer momento o consentimento for modificado, a atitude deve mudar imediatamente.
No ano que se inicia, elas devem continuar andando juntas, de mãos dadas, ao lado de homens capazes de escutar e discorrer de igual para igual. A solidariedade com aquelas que se encontram no ciclo de violência doméstica, sem o julgamento dolorido, é primordial.
As mulheres vítimas dos delitos sexuais precisam do apoio incondicional das demais.
As mulheres se movem, e não é para trás...
Rosana Leite de Barros é defensora pública estadual em Mato Grosso.
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