Gostaria de recordar alguns momentos do Brasil vividos em minha memória. Talvez nos ajudem a enxergar o Brasil e agora pela história recontada. Em 1954 meu pai, Sebastião Ribeiro, um homem simples nascido no campo, proprietário de uma média lavoura de café na montanhosa Campos Altos em Minas. Do nada, ele comprou um aparelho de rádio “Standard Electric”, um dos poucos existentes na cidade. Apaixonei-me de cara pelo rádio. Pregava no pé dele de manhã, de tarde e de noite. Ali entre 1954 e 1960 ouvi todos os noticiários num monte de emissoras, incluindo o legendário “Repórter Esso”, na Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Aprendi todos os nomes de todos os presidentes de países importantes, ministros, etc e me dei conta da existência de um mundo além da nossa pequena Campos Altos. Anos mais tarde, se alguém foi culpado de ter me tornado jornalista foi aquele rádio e todos os aparelhos que o sucederam na minha casa. O último foi um “Philips” moderníssimo de 1958. Coisa fina!
No rádio acompanhei toda a agonia da crise política que levou o presidente Getúlio Vargas ao suicídio em 25 de agosto de 1954. Elites contra elites. Interesses políticos e econômicos entre si. O povo? Ah. Era só um detalhe pra justificar as lutas pelo poder!
No rádio acompanhei as crises políticas pós-Getúlio e a eleição de Juscelino Kubistcheck, em 1955. As crises e tentativas de golpe antes de sua posse em 1956. Puro interesse de grupos. Brasília nascendo. O rádio era muito rico em informações. Ouvi a eleição de Jânio Quadros em 1960. Suas loucuras e já em 1961, em Brasília acompanhei o seu dia-a-dia no rádio nas aulas de química no Colégio Elefante Branco com o professor Edísio de Matos, um jornalista que cobria o dia a dia do Palácio do Planalto. Soubemos de sua renúncia dias antes pela crise que se desenhava entre Jânio, o Congresso e os comandantes militares.
Ainda no rádio acompanhei a revolução militar de 1964, suas sucessões e tudo o mais que decorreu dela. O mesmo rádio me mostrou o fim do regime, as Diretas-Já, a eleição de Tancredo Neves, sua agonia e morte, Sarney no governo(1986-1990), a eleição de Fernando Collor de Mello(1991-1992). Ainda que houvesse a televisão, o rádio sempre me encantou. A eleição de Lula, os movimentos políticos complexos, o medo da sociedade com a esquerda no poder, o governo, a reeleição. A eleição e reeleição de Dilma Rousseff. Suas crises, queda e tudo que veio depois até ontem.
Nos próximos artigos gostaria de resgatar um pouco dessas histórias relevantes a fim de que possamos estabelecer laços entre a nossa História de ontem e a nossa História de hoje.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
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