Kamila Garcia
Ontem, na sala de aula, meu professor de Introdução à Psicologia levantou uma questão que ecoou fundo em mim: o que nos diferencia dos outros animais? A razão, disse ele. O saber pensar com racionalidade.
Mas que ironia... essa mesma razão que nos eleva, muitas vezes nos aprisiona, fazendo-nos tropeçar na própria subjetividade. Sozinhos, não compreendemos o que nos molda, o que nos move ou o que, de fato, nos desenvolve. Nascemos, crescemos e morremos, muitas vezes presos a uma visão distorcida de mundo — seja como indivíduos, famílias ou sociedade. E, nesse caminho, terceirizamos responsabilidades, porque, em essência, nos falta ética.
Penso nos filósofos da Antiguidade que dividiram os homens em dois grupos: idealistas e materialistas. Os primeiros acreditam que é possível viver com princípios, mesmo cercados por aqueles que tudo fazem em busca de poder, dinheiro e notoriedade. Já os segundos enxergam nos idealistas a sustentação moral de que necessitam — mas não hesitam em atropelar relações, sonhos e vidas, em nome do próprio ganho.
O jogo de poder sempre esteve aí: no trabalho, na família, nas amizades. Platão acreditava que, no mundo das ideias, todos compartilhamos uma natureza boa, quase divina. Eu, no entanto, vejo essa bondade sufocada, esmagada pelas urgências materiais e pelo desejo de reconhecimento.
E como disse o poeta: “Assim caminha a humanidade, desde que o mundo é mundo.” Quanta verdade há nisso. Corrupções pequenas e grandes se repetem como engrenagens de uma máquina que nunca se cansa. Pequenas trocas de favores, “ajudinhas” e conluios. E, ainda assim, há inteligência nessas ações — a inteligência de manipular, de se apropriar dos sonhos alheios para transformá-los em degraus pessoais.
O problema é que isso nada tem a ver com razão, mas com ausência de humanidade. Em muitos momentos, parece nos faltar o reconhecimento do outro como igual, tão imperfeito e frágil quanto nós.
Nós, os idealistas, seguimos sonhando. Queremos um mundo justo, honesto o suficiente para que o trabalho e a colaboração com a sociedade sejam a medida de valor. Queremos resistir. Mas, antes, precisamos aprender a separar o joio do trigo, a enxergar quem caminha pela ética e quem vive pela ganância.
Talvez a verdadeira missão da humanidade não seja apenas ter razão, mas encontrar sabedoria para usá-la em prol da bondade e da colaboração. Afinal, a razão que nos separa é a mesma que, se usada com ética, pode nos unir. E talvez, só então, possamos finalmente compreender o que significa ser humano.
*Kamila Garcia é bacharel em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, com pós-graduação em Psicanálise. Atualmente é estudante de Psicologia.
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