• Cuiabá, 12 de Julho - 2025 00:00:00

O momento requer criatividade e imaginação na economia, analisa especialista


Rafaela Maximiano - Da Redação

O novo coronavírus, COVID-19, trouxe um cenário pouco salutar para a economia mundial, do país e por consequência de Mato Grosso. E, para analisar a saúde do setor econômico do Estado, neste momento, o FocoCidade entrevistou o economista e mestre em administração pública, Breno Augusto de Barros Antunes.

Também professor do Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT), o especialista avalia que o momento requer criatividade e imaginação na economia, e, acredita que a atual pandemia que assolou o planeta poderá ser uma oportunidade para se repensar a forma com que vemos e trabalhamos os setores econômicos, como a real identificação das áreas que requerem investimentos e serviços públicos com qualidade.

Como minimizar os impactos econômicos desse período em que o comércio sofreu paralisação de atividades e proteger as pequenas empresas e o microempreendedor também foram abordados, entre outros pontos.

Confira a entrevista na íntegra:

O novo coronavírus, o COVID-19, foi declarado uma pandemia pela OMS desde 11 de março deste ano. Com esse status da doença onde é declarado quarentena e paralisação de diversas atividades, é possível pensar que a situação pode levar à recessão ou diminua o crescimento econômico do Estado?

Trata-se de um período recente - e também sem precedentes históricos - da paralisação das atividades econômicas. Algo em cerca de 40 dias para cá. Somente teremos a noção exata do impacto econômico quando começarem a ser divulgados os resultados das pesquisas de atividades econômicas tais como do IBGE, sobre o comércio, a indústria e serviços, o Banco Central, o CAGED sobre emprego e desemprego, boletins de arrecadação de tributos estaduais e federais, entre outros. E isso deve começar a ocorrer pelos fins do mês de maio deste ano em diante. Acredito que o melhor conceito técnico de recessão econômica é o da queda da atividade econômica a nível agregado por dois trimestres consecutivos, então, primeiramente, é conhecermos o real reflexo que houve na diminuição do consumo e produção para depois estimarmos a magnitude do impacto no crescimento econômico.

Quais os impactos reais que a doença está causando e ainda pode causar ne economia estadual? Devemos nos preocupar de fato?

Leio o momento em que vivemos com cautela. Uns passos em direção ao retorno paulatino das atividades econômicas foram decididos pelas autoridades. Cientes de que a questão sanitária havia se tornado prioritária num primeiro momento. Inicialmente era evitar o colapso do sistema de saúde e cada qual tomou decisões dentro da sua área de competência. Agora, sim, houve impactos reais, mas reflexo das ações tomadas em nome da saúde pública. Não sabemos precisamente o tamanho do impacto e nem é possível projetar, neste momento, as consequências para a economia como um todo. A meu ver, temos que esperar o resultado das pesquisas econômicas sobre o período de paralisação.

E penso que não se deve suprimir salários. 

O que poderia ser feito para tentar minimizar os impactos econômicos da COVID-19?

É importante efetivar as transferências de renda às pessoas que estão em situação de vulnerabilidade neste período de quarentena. Acredito que também na ajuda aos pequenos empresários que devem ter problemas de recursos para pagamento de salários e negociação com fornecedores - mesmo que seja transferência a fundo perdido. E penso que não se deve suprimir salários. A remuneração de salário é todo consumo das famílias, inclusive o componente de maior participação no PIB. E neste momento, manter a demanda é muito importante. Deve haver muita criatividade e imaginação na economia para enfrentar este tipo de crise.

Alguns economistas comparam a situação atual com a da crise econômica global, que ocorreu em 2008. Entretanto, naquele momento, a causa era puramente econômica – consequência do crédito fácil e da disseminação de investimento. Agora, temos uma questão de saúde. O que os economistas podem orientar aos governos para resolver a crise que se anuncia?

Eu penso que os governos são chamados para atuar na retomada da economia e o equilíbrio econômico. Somente os gastos governamentais e outras medidas de regulação e incentivo podem atuar como um para-choque e atenuar a queda na demanda. A meu ver o livre mercado sozinho nunca deu e não dará conta do recado, seja lá na crise de 2008 ou agora. O que se vê em tela nos debates econômicos é a ideia da instituição de uma política econômica de renda básica permanente e dar cobertura para pessoas em situação de extrema vulnerabilidade. Este período de quarentena apenas reforça as questões de desigualdade. Atualmente, aspectos estruturais econômicos vigentes somente acentuam a desigualdade social e empurram pessoas para pobreza e miséria. A guinada é atuar sobre as condições de renda e consumo da população, e não somente condições de produção. A realidade é que até o clube dos mais ricos norte-americanos desejam pagar mais impostos em favor dos mais pobres.

As soluções técnicas apontadas e criadas nos círculos econômicos do Estado e prefeituras de Mato Grosso são as corretas?

Torna-se complicado comentar porque envolvem competências distintas e os três entes federativos - União, Estados e Municípios – sendo que Mato Grosso possui 141 municípios. Tudo é inédito e envolve variáveis sobre o tamanho da população, transporte público, escolas, aglomerações urbanas, número de casos notificados do COVID-19, situação do sistema de saúde, etc. Acredito que cada qual faz o melhor que pode dada as circunstâncias.

Não dá para afirmar que a economia levará anos para se recuperar. Em 2016 tivemos uma queda de 6% na economia e logo no ano seguinte um crescimento de 12%.

Na sua avaliação o Estado de Mato Grosso levará anos para se recuperar economicamente dessa pandemia, ou os setores não precisam se preocupar?

Temos a perspectiva de ter a melhor safra agrícola de todos os tempos este ano em Mato Grosso, conforme dados do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola – LSPA/IBGE. As atividades econômicas do comércio varejista, retomada das atividades industriais e a prestação de serviços em geral é que vão carecer de serem muito bem acompanhadas. Não dá para afirmar que a economia levará anos para se recuperar. Em 2016 tivemos uma queda de 6% na economia e logo no ano seguinte um crescimento de 12%.

O pequeno empreendedor precisa ser protegido.

Esse enorme gasto público que os governos municipais, estadual e federal estão tendo com a combate a pandemia impactam na economia?

Os entes municipais, estaduais e a União, cada qual deles tem sua capacidade de gasto e também seus respectivos instrumentos de recursos. Os gastos estão sendo direcionados para a saúde pública e proteção social. Se não houver o gasto público neste momento, pior seria a situação. Os indicadores de finanças públicas podem ficar em segundo plano neste momento.

Pós-pandemia qual o cenário que o senhor analisa para os pequenos comerciantes e microempreendedores e para as grandes indústrias?

As grandes indústrias podem se suportar com linhas de crédito de longo prazo, principalmente dos bancos de governo até a progressiva retomada da economia. O cenário se complica aos pequenos comerciantes e microempreendedores. Há repercussão nas mídias de haver represamento de recursos nos agentes financeiros. Parece que há problemas de burocracia e também no receio da inadimplência. Então, a gestão da crise se baseia em adiar os vencimentos das contas do negócio, cortar despesas para diminuir os impactos financeiros ou até mesmo encerrar portas. Isso não é salutar para a economia. O pequeno empreendedor precisa ser protegido. Como citei, o momento requer criatividade e imaginação na economia. Eu acredito no cenário pós-pandemia como também uma oportunidade de se reestruturar a economia como um todo. Uma economia não só baseada em crescimento econômico, mas com a real identificação dos setores que requerem investimentos e serviços públicos com qualidade. Há atividades econômicas que nem deveriam ser mais incentivadas dada a situação de sustentabilidade ecológica, econômica e social do planeta Terra. Erradicar de vez a fome neste século XXI, perdão da dívida dos países atrasados, repensar o papel do capital financeiro especulativo, maior tempo livre para as pessoas sustentarem o crescimento familiar e pessoal. Afinal, o resultado econômico deve ser para todos.  




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