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Assentados questionam operação da Secretaria de Segurança em Feliz Natal

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  • 04/09/2017 19:09:15

Da Redação - FocoCidade

Em meio a uma seara de crimes e conflitos provocados pela disputa de madeira em Feliz Natal, trabalhadores rurais do assentamento Ena, localizado no município, questionam as ações a cargo da Secretaria de Estado de Segurança Pública na região. As críticas se referem principalmente à suposta falta de efetividade da Operação Risp, sob responsabilidade da pasta.

Por meio de nota, a Sesp acentua o empenho para resolução do caso, pontuando que "já prendeu nove pessoas por crimes de roubo e formação de quadrilha, tráfico de drogas, posse de arma e por homicídio".

Assentados rebatem, assinalando que a operação não teria prendido grileiros, e nem os suspeitos de roubos e furtos de madeira. As denuncias de conflito agrário, invasões, roubos e furtos, foram formalizadas diretamente à Sesp, sendo que o próprio denunciante foi preso. Além dele, três vigilantes por abuso, e dois traficantes conhecidos da região, Marcos Paulo da Cruz e Valdevan da Silva Soares. No momento da autuação a dupla seguia com uma motocicleta na região Agrícola Cruzeirinho.

“Meu marido, Gelso Fistarol, que é presidente da Cooperena (Cooperativa Mista Agropecuária e Pastoril do Assentamento Ena), foi preso injustamente, acredito em represália, pois ele representa os Assentados e Cooperados, que lutam pelo restabelecimento da ordem no assentamento, tendo contratado um serviços de Vigilância Armada, justamente para impedir os roubos, já que a Polícia da cidade não atende os nossos chamados”, disse Valdira Francisca Félix, assentada.

De acordo com os cooperados, a presença dos Vigilantes coibiu mais de 80% dos roubos e furtos da madeira no local. Trabalhadores rurais temem piora da situação. Isso porque o juiz da comarca de Feliz Natal,  Juliano Hermont Hermes da Silva, atendeu pedido do delegado de Sinop, Sérgio Ribeiro, determinando a suspensão imediata dos Vigilantes no assentamento.

“Se a Polícia não conseguia impedir os roubos e furtos, e agora a vigilância sendo suspensa, seremos novamente massacrados. O que o presidente da Cooperativa e os assentados desejam é colocar um fim neste saque de madeira e massacre aos direitos dos assentados. Queremos trabalhar, não podemos mais ser roubados, a reserva precisa ser protegida, os interesses das madeireiras da região e de pessoas que se beneficiam com a nossa madeira é o que impede de por um fim nesta grande injustiça. Somos minoria e pessoas simples, e portanto, não temos crédito diante das autoridades. A operação da Sesp, deveria permanecer no assentamento, mas durante a noite e a madrugada, quando as carretas saem do local carregadas de madeira. Queremos ver os verdadeiros criminosos presos”, acrescentou Valdira.

Outro exemplo de alerta se refere ao assentado, José Rosário de Lima, 70 anos, que teve sua casa incendiada, e também a pequena lavoura de abacaxi. “Para mim sobrou apenas a roupa do corpo, nada sobrou da minha casa, queimaram todo o trabalho de uma vida inteira, porque achavam que eu havia denunciado os grileiros. Os incêndios ocorreram no mesmo dia em que os vigilantes conseguiram impedir, próxima a minha residência, uma grande carga de madeira separada para furto. Minha grande revolta é que os suspeitos foram flagrados pelos vigilantes, porem a polícia soltou os suspeitos logo em seguida. Ou seja, em Feliz Natal, os assentados tem menos valor que bandidos e grileiros”, desabafa seu José que agora mora de favor com amigos.

Os assentados explicam que os conflitos no assentamento foram deflagrados após o rompimento de contrato entre a Cooperena e o ex-prefeito Antonio Dubiella. “Uma parte dos assentados formou em 2014 a Cooperativa, que passou a fazer a gestão do manejo florestal, nesta época foi firmado com a DB Madeiras, uma empresa de Feliz Natal de propriedade de Nilton Dubiella, pai do ex-prefeito do município, Jose Antônio Dubiella, do qual faria a extração da madeira e dividiria 50% de tudo que fosse retirado da reserva. Mas, levamos um imenso calote do ex-prefeito de mais de R$ 10 milhões. A nossa alternativa foi suspender, por via judicial o contrato com Dubiella, e depois disso é que os furtos e roubos triplicaram. Agora o ex-prefeito organiza reuniões fraudulentas, para organizar um motim contra o presidente da Cooperativa Gelso Fistarol, alegando que Fistarol teria fraudado a Ata da Cooperativa, e que ele não seria o verdadeiro presidente da Cooperena. Cada dia que passa presenciamos mais e mais as investidas injustas e mentirosas de quem deseja explorar nosso assentamento e nosso povo, estamos pedindo socorro, e ninguém nos ouve”, explica José Rosário.

Fundado há 16 anos, o assentamento tem mais de 300 lotes, foi regularizado em 2013. Atualmente aproximadamente 240 famílias ocupam a área de terra com mais de 30 mil hectares, sendo que cerca de 16 mil hectares é reserva florestal legal, não sendo permitida a exploração, nem para agricultura ou pecuária.

Antes de ser preso, na Operação Risp, Gelso Fistarol recebeu inúmeras ameaças por telefone. Em um dos áudios repassados à polícia do município de Sorriso, um homem utilizou palavras de baixo calão, repetindo inúmeras vezes palavrões, e ainda afirmando que estava enviando os áudios na presença de um Policial Civil. Um dos trechos pontua: “tu não sabe com quem tá mexendo (...) Tô na civil, tô mandando este áudio na frente do Evandro da Civil (SIC). Ainda na mesma mensagem um outro homem diz, “se tirar o leitinho das minhas crianças tiro o teu também, toma cuidado meu fio” (SIC). Na sequência outra mensagem: “opa boa noite, como tá teu dia hoje filho? O meu camarada, teu dia foi mais ou menos, tua noite vai ficar mió viu”, (SIC).

“Precisamos de um sério trabalho de investigação para que os verdadeiros criminosos sejam punidos. Pois ainda recebo ameaças, os bandidos me dizem que vão queimar tudo o que tenho”, alerta Valdira. (Com assessoria)

 

Nota Secretaria de Estado de Segurança Pública

"As ações de segurança pública, deflagrada no Assentamento Ena, no município de Feliz Natal (a 538 km de Cuiabá) já prenderam nove pessoas por crimes de roubo e formação de quadrilha, tráfico de drogas, posse de arma e por homicídio.

Outros 15 seguranças foram indiciados por usurpação de função pública. Foram apreendidas ainda madeiras e quatro armas, sendo três longas e um revólver. As ações de repressão à criminalidade na região continuam.

Quanto às denúncias de que policiais estão envolvidos no roubo e furto de madeiras, a Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp), informa que a corregedoria das unidades, Polícia Militar e Polícia Judiciária Civil, está investigando o caso."




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