• Cuiabá, 21 de Novembro - 00:00:00

Uma das últimas matriarcas do Pantanal

Na última semana, recebi do amigo Lauro Eubank,de Poconé,  a notícia da morte de dona Isa Falcão Dorileo, uma das últimas matriarcas do Pantanal. Lembra ele que matriarcas são aquelas mulheres pantaneiras legítimas, que ali nasceram, cresceram, casaram e tiveram os seus filhos no Pantanal. Mais que isso. Viveram o dia a dia do Pantanal ao longo de tantas décadas e ajudaram a construir a preciosa cultura pantaneira. Hoje tão ameaçada e sofrida.

Dona Isa era casada com o ilustre líder pantaneiro Zelito Dorileo, um querido amigo que conheci em Poconé, e nos deixou há alguns anos. Tivemos muito boas conversas sobre a necessidade da região ter vozes políticas que conhecessem as lutas e as demandas do Pantanal mato-grossense. Estive no seu velório e me recordo da força que seu vida trazia pra região. Fui de Cuiabá me despedir dele. Vi um gigante partindo. Falei rapidamente com dona Isa, ao lado do seu caixão com a extraordinária firmeza do forte caráter das mulheres pantaneiras.

Ela saiu da região do Cambarazinho pra casar com Zelito Dorileo. Na região do Santa Isabel fincaram as suas vidas e as de sua família. Ambos nasceram  no Rio Alegre, berço das famílias Dorileo, Falcão, Gomes de Arruda e Silva, Proença, Mamede, entre tantas de destaque no Pantanal.

Dona Isa e Zelito Dorileo desenvolveram forte liderança nos temas do Pantanal. Ele, apoiado pela mão forte típica das mulheres pantaneiras, defendeu o Pantanal enquanto viveu. Conversamos muitas vezes e sabia da suas preocupações e angústias.  Ele enxergava o Pantanal empobrecendo com a mudança das pastagens da região para os pastos de braquiarão nos cerrados de Mato Grosso, numa nova economia de gado nelore. O tradicional gado pantaneiro desenvolvido na região ao longo de séculos estava lentamente sendo ameaçado de extinção genética e econômica por uma pecuária desamparada.

Só pra registrar. Graças a essa visão política, o Pantanal recebeu a visita de dois presidentes da República: Ernesto Geisel em 1975, e João Baptista Figueiredo em 1979.

A morte de dona Isa ocorre num momento em que o Pantanal atravessa uma curva de problemas com polêmicas e contradições ambientais, econômicas e falta de vozes políticas. Pior. Num mundo diferente daquele Pantanal histórico. Dona Isa leva um pouco da história, parte importante da memória da cultura, das origens familiares pantaneiras e dos sonhos de todos os pantaneiros construídos por tantas gerações. E mais: memórias de um saudoso velho Mato Grosso de heróicos, pioneiros naquele mundo das águas. Vai em paz, Dona Isa!

 

Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso.

onofreribeiro@onofreribeiro.com.br    www.onofreribeiro.com.br



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