Se os órgãos de controle estiverem funcionando, não há necessidade de CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito). Então, quando vemos no parlamento municipal, estadual ou federal pedidos de CPIs, são uma clara evidencia que quem tem a prerrogativa, o dever de estar fiscalizando, não está fazendo.
Neste momento vivemos uma avalanche de pedidos de CPI Brasil afora, nas várias esferas de poder. A que mais chama atenção é a CPI da Covid. Não somente por envolver o governo federal e a pandemia, mas pelo fato dos governistas tentarem desacreditar e esculhambar ela antes de começar.
Neste caso, o medo de ser investigado pode ser fatal, principalmente em um processo onde envolve sempre algo maior que provas materiais. Como falou William Shakespeare, “nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que, com frequência, poderíamos ganhar, por simples medo”. Na política, toda investigação envolve retórica e argumentos muito bem construídos.
Sabemos que aceitar e provar os fatos com precisão ainda faz parte das melhores estratégias de defesa de qualquer investigado. O ataque depois do processo aberto é companhia perene da condenação. O maior erro de um governo é temer seus próprios erros cometidos, principalmente se os fez com convicções.
Recorrendo novamente a William Shakespeare, é bom lembrar que “os covardes morrem várias vezes antes da sua morte, mas o homem corajoso experimenta a morte apenas uma vez”.
Em uma investigação deste nível, onde os investigados tentam obstruir e desmoralizar quem investiga, sabemos que serão investigados até mesmo as denúncias e provas parciais e insuficientes. É a lei da investigação.
O embate estabelecido nesta CPI da discórdia promete tanto até o momento, que é provável que os depoimentos, construção e leitura dos relatórios pare o país novamente para assistir e ouvir. Pode ocorrer desta CPI paralisar setores importantes do país, pois se o desenrolar hipnotiza as pessoas, imagina os efeitos na administração pública, somado ao fator que estamos em plena pandemia. São muitas desilusões em tão pouco tempo, uma vez que o vírus ainda não foi embora, mas a crença no Brasil parece que já.
Acontece que em um país de terceiro mundo, onde a corrupção é endógena, e os órgãos de controle estão a serviços de pessoas e não da sociedade, se não investigamos os homens públicos, não saberemos nem suas qualidade e nem seus defeitos.
João Edisom é Analista Político, Professor Universitário em Mato Grosso.
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