Há décadas a Amazônia brasileira não era tão discutida. Começou com as denúncias de queimadas neste ano. Depois vieram as denúncias de desmatamento. Por fim vieram as denúncias contra o Brasil. E, junto, os receios de retaliações comerciais contra tudo isso. O governo brasileiro interpretou tudo isso por um ângulo só: o da soberania física no território. Errado!
Hoje, passados dois meses e com a fervura mais baixa dá pra se discutir melhor o assunto. Com lucidez! A questão vai muito além da soberania territorial. O que teria então, por detrás? perguntaria o leitor. Além dos naturais problemas geopolíticos e econômicos da União Europeia, estão alguns fatores novos que nunca estiveram antes no tabuleiro dos interesses internacionais sobre a Amazônia.
A Europa teve sucessivas guerras no século passado. No final do mesmo século teve a união de todos os países debaixo de uma única federação. Eram países com forte identidade que tiveram que se submeter a um governo genérico. Isso não se dá em clima de plena paz social ou psicossocial. Tampouco política ou econômica.
Mas esse clima conflituoso iniciado lá na primeira guerra mundial, em 1914, depois na segunda, em 1939 a 1945, deixou traumas que acabaram por abrir espaços psicossociais pra comportamentos novos construídos ao longo desses 74 anos do pós-guerra. Hoje gerações convivem com um traumatismo subconsciente de tantas tragédias humanas e culturais.
São essas gerações que estão por detrás de novos comportamentos diversos, mas tão convergentes. Estão preocupadas com o bem estar dos animais, com a água, com a floresta, com a Amazônia e com a alimentação. Navegam num profundo e misterioso mar de contradições. Mas sabem que caminham numa direção mal-compreendida pelas gerações mais veteranas.
Não importam se na Amazônia não vivem elefantes e girafas. Lá vivem animais, reconhecem. Esses merecem a preservação, assim como qualquer árvore. Esse sentimento está também em seus países. É uma onda geracional de comportamento novo.
É aqui que o Brasil deverá agir, se quiser sair desse abismo de queimador de florestas! Garantir a soberania da biosustentabilidade. Parece confuso. Mas não tem outro caminho. Soldados descendo de paraquedas não pra defender a linha demarcatória do território. Mas pra garantir a integridade da biodiversidade.
Esta é a linguagem final que nos resta compreender. As gerações futuras não se importam com a posse do território. Querem que ele seja mantido íntegro como bioma e fonte de vida. Só isso!
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
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