Natais sempre há e sempre haverão.
Nas últimas décadas a data foi tomada de assalto pela publicidade, pelo marketing e pelo oportunismo comercial. A rigor, a data é por si mesma muito artificial. Foi um arranjo da Igreja Católica em outras épocas pra dar seguimento a sua trajetória política e espiritual. Todos sabemos que Jesus Cristo nasceu em uma data não identificada no tempo. Mas isso não importa. A sua existência é importante. Dessa não existem muitas dúvidas a respeito.
Até a década de 1970 o Natal tinha um fortíssimo cunho religioso. Ligava-se a valores sociais tradicionais como almoço domingueiro, missa à meia-noite na véspera, alguma troca de presentes e a figura suprema do Papai Noel que perdia apenas pra Jesus Cristo. Aliás, ele a razão da data.
Depois da década de 1980 os shopping centers sequestram o Natal como data de negócios comerciais. Papai Noel desceu da sua mítica carruagem de renas e passou a subir e a descer as escadas rolantes. Saiu do mistério e se deixou fotografar com crianças no colo. De preferência com presentes nas mãos.
O resultado foi a banalização comercial do Natal. Cristo tornou-se acessório, como o espírito religioso, as famílias e a vida em sociedade. Presentes. Ceias. Presentes. Ceias. Presentes. Pouco mais.
Porém em 2018 alguma coisa nova antecipa o futuro próximo. E curiosamente isso não se deve à Igreja, nem as famílias, ao marketing e nem aos shoppings centers. Deve-se antes de tudo ao novo espírito da juventude que vem vindo. No fundo disso também existe um certo desprendimento ou despojamento. O Natal não é mais só o resultado da desenfreada onda de consumo. O leitor deve estar pensando que fiquei louco. Não. Garanto que não.
As crianças atuais não enxergam o Natal com aquela importância comercial. Se o fazem é mais pela pressão dos pais do que pelo desejo delas. Por outro lado, a sociedade está percebendo que a onda do consumismo e do individualismo crônico já não responde às angústias da vida atual. O que tem por detrás. Uma fortíssima onda de depressões, de estresses, de egoísmo e de suicídios. Especialmente na juventude. O que havia já não responde às carências das crianças e dos jovens. Precisa mudar.
Na medida em que isso se consolida torto por excesso das comemorações desses 40 últimos anos, desejos novos de afetividade começam a tomar forma dentro da sociedade mundial. É a mudança a que me refiro no título deste artigo.
Pretendo voltar ao assunto das transformações da sociedade humana das últimas décadas. Mas vejo-as como um momento de transição civilizatória. De tempos em tempos o ciclo se fecha e abre o ciclo virtuoso seguinte. Por mais que olhemos com pessimismo o presente, ele é a ponte do futuro que começará daqui a uma semana em 2019.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
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