Entender a razão do sucesso de um povo é uma grande fonte de estudo e discussão. Uma tese frequentemente levantada é a de que as dificuldades ajudam os povos a se desenvolverem. Isto explicaria a diferença entre os locais de clima temperado – mais desenvolvidos – e de clima tropical – menos desenvolvidos. O que é fácil de entender pela lógica da produção de alimentos, já que no frio qualquer povo tem que planejar muito bem suas necessidades pois, nestas condições, a escassez significa morte.
Na minha breve carreira, tive a grata oportunidade de viajar o mundo e colocar o pé em, pelo menos, um país de cada continente. Sempre tive a percepção de que a fartura atrapalha o desenvolvimento e a escassez estimula. Porém nunca me senti tão impactado com isso, quanto nesta recente viagem a Israel.
Esta foi a segunda Missão do Projeto AgriHub, desenvolvido pela FAMATO, SENAR-MT e IMEA, que teve como objetivo dar aos participantes a oportunidade de conhecerem o ambiente de inovação de Israel. Vimos não apenas as chamadas StartUp’s - empresas com soluções tecnológicas disruptivas -, mas também estruturas públicas e privadas de fomento e investimento desta rede de desenvolvimento de tecnologia.
Assim como na primeira Missão, realizada no vale do Silício (EUA), vislumbramos várias maneiras de estruturar e fomentar o ambiente de inovação mato-grossense. Mas, infelizmente, o que Israel tem de melhor não será fácil de copiar, que é sua cultura, justamente porque ela foi forjada pela escassez e dificuldade extrema do povo judeu.
Não vimos ostentação. O estilo de vida dos Kibutz - que são organizações camponesas que dividem democraticamente a terra, os trabalhos e os lucros - nos fizeram acreditar que o sucesso desta nação está na alta habilidade de sobrevivência deste povo.
Esta característica do povo Judeu é notória, já que durante séculos sua cultura sobreviveu sem um local para chamar de nação, perseguida pelos nazistas e outros povos que não os aceitavam. A conquista do território israelense em 1948, parecia ser a redenção do povo Judeu, mas foi apenas o início de mais um capítulo de aula de sobrevivência.
O domínio do território israelense - conhecido desde os tempos bíblicos como o centro do mundo - nunca foi aceito por boa parte dos seus vizinhos e, mesmo em dias de trégua, todos vivem em alerta total. Além disso, a “tal terra prometida”, onde dizia a bíblia que emana leite e mel, se revelou um deserto duro e impiedoso, que custou a vida de muitos dos primeiros colonizadores.
Como reação, para defender seu território, os israelenses instituíram o serviço militar obrigatório para os judeus - que representam ¾ da população de Israel - sendo de dois anos e oito meses para os homens e de dois anos para as mulheres. Além de disciplina, coincidentemente, o exército também fortaleceu na cultura local a troca de experiência e a inovação.
Curiosamente, estes dois valores se fortaleceram porque no exército as culturas judaicas migrantes de todo mundo convivem no mesmo espaço. De quebra, talvez devido à alta pressão da atividade militar, a maioria dos jovens egressos do exército tiram um ano sabático para viajar pelo mundo, expandindo assim, ainda mais suas culturas, visão de mundo e capacidade criativa.
Essa talvez seja a fórmula vencedora de Israel, conhecida como a nação das StartUp’s, onde o investimento de cerca de mais de 4% do Produto Interno Bruto (PIB) em pesquisa e desenvolvimento, atrás apenas da Coreia do Sul, é somente a consequência do modo de agir e pensar de um povo. E, assim a escassez é transformada todos os dias em fonte de sucesso.
Otávio Celidonio é superintendente do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de Mato Grosso (SENAR-MT) e participou da Missão AgriHub Israel 2017.
Ainda não há comentários.