O documentário ' Argentina', do cineasta espanhol Carlos Saura, presta um tributo ao folclore do país latino. Gravado num galpão do tradicional bairro de La Boca, traz, como toda obra de arte, virtudes que a maioria aponta, assim como decisões visuais e sonoras contestadas por muitos, mas, pelo menos, três momentos são marcantes.
Um deles é uma homenagem a Mercedes Sosa. Um vídeo dela cantando 'Todo cambia' é apresentado a um grupo de crianças sentadas num cenário que remete a uma sala de aula. Feito para emocionar, consegue. Cabe lembrar que a música é do chileno Julio Numhauser, que a compôs quando estava exilado na Suécia após o golpe de Estado de Pinochet.
Outro é a projeção de outro vídeo, agora de Atahualpa Yupanqui, catando 'Preguntitas sobre Dios', um dos melhores questionamentos já feitos, com arte e contundência, da existência divina por um olhar crítico, social e penetrante. Aqui é bom recordar que o pseudônimo do artista é a junção dos nomes do último e penúltimo soberanos incas.
O terceiro é Soledad Pastorutti cantando a chacarera 'Añoranzas', de Julio Argentino Gerez, hino cultural oficial da província de Santiago del Estero. A entrega dela funciona com uma das melhores letras do folclore argentino. Os três instantes comprovam o talento do cineasta espanhol, atento ao conceito de que uma forma da tradição se manter é se renovar sempre.
Oscar D'Ambrosio é doutor em Educação, Arte e História da Cultura e Mestre em Artes Visuais, atua na Assessoria de Comunicação e Imprensa da Unesp.
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