Na minha infância havia um verbo muito usado: desbastar, que vinha do substantivo desbaste. Significava aparar qualquer coisa que estivesse fora da conformidade. Nós usávamos muito as mãos em todas as tarefas, já que não havia máquinas. Ferramentas de carpinteiro, de ferreiro, de mecânica, de usos gerais. Sempre havia o que desbastar. Papai sempre me dizia: “faz um desbaste ali naquele ponto”, quando mexia com as suas madeiras. Sempre foi um bom carpinteiro. Caprichoso. Eu adorava fazer os desbastes que ele pedia, usando a plaina com sua lâmina alemã que tanto o orgulhava. Até hoje tenho muitas ferramentas, algumas herdadas dele, como a velha plaina, a sua enxó, o graminho que ele mesmo fabricou, a grosa, o serrote “Collins” americano e o traçador de cortar toras de madeira.
O assunto aparentemente não casa com o tema deste artigo. Mas vou arriscar. O leitor puxa a minha orelha se não gostar. No dia 7 de fevereiro escrevi um artigo neste espaço falando sobre os 11 anos da morte do ex-governador Dante de Oliveira. Recebi uma série de comentários dos leitores tanto no jornal quanto nas mídias digitais. Alguns pertinentes que contribuíram muito com o assunto. Outros bem tanto. É desses que gostaria de falar.
Lembrando: Dante governou Mato Grosso entre 1995-1998 e 1999 a 2002. Em 2002 perdeu a eleição de senador e ficou fora da política até o ano de 2006, quando faleceu, aos 65 anos de idade, vítima de complicações derivadas de uma diabetes e, quem sabe, de causas emocionais que o importunavam desde a eleição de 2002. Pois bem. Falei dos comentários. Fiquei muito impressionado com a baixíssima qualidade da maioria das contribuições dos leitores. Teve exceções, claro! Mas observações do tipo: “até onde sei, foi um péssimo político”. Ou, “fiquei sabendo do seu governo e não gosto dele”. Observações muito genéricas e desqualificadoras num tema que o leitor deixa bem claro que não está exercitando o debate. Mas o de-s-baste, do meu pai.
Juntando esse fato com outras centenas de comentários que leio nos artigos publicados, me assusta a ausência de um desejo por debates. Não é de se estranhar que a política esteja tão ruim no país. Debater saiu do dicionário. Desqualifica-se primeiro. Depois se fala sobre o que restar. Debate é a construção de dialética a partir de teses, antíteses, em sínteses e de novo, teses, antíteses, eternamente. Tristes tempos.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
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