Wilson Pedroso
O cargo de primeiro-ministro é ocupado pelos chefes de governos parlamentaristas e semipresidencialistas; uma figura central, que distribui as cartas e dita as regras do poder, enquanto o chefe de estado exerce funções meramente protocolares. No Brasil, país de regime presidencialista, não há um primeiro-ministro, ou pelo menos não na teoria. Na prática, porém, ele existe e atua de forma intensa nos bastidores especialmente nos momentos de maior crise. Mesmo sem votos ou cargo oficial no Planalto, Michel Temer possui alta capacidade de influência e articulação em todas as esferas, características que o permitem assumir papel de protagonismo no jogo político.
Engana-se, no entanto, quem imagina que o ex-presidente entre na batalha do tabuleiro, misturando-se às peças do xadrez. Temer permanece do lado de fora da disputa, marcando o tempo de cada jogada. É ele o relojoeiro, que observa tudo a distância e, em silenciosa atuação, estabelece o ritmo das manobras de quem assume o papel oficial de jogador. Foi assim no passado e ainda é assim no presente, quando o país se encontra cada vez mais imerso no clima da polarização radicalizada.
Nos últimos dias, Temer voltou a assumir posição determinante nos bastidores da política nacional em razão da crise institucional incendiária que se instalou no país após a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe. A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) fez crescer a pressão da direita pelo perdão aos condenados por envolvimento nos ataques de 8 de janeiro de 2023 em Brasília. Poucos sabem e quase ninguém viu, mas o ex-presidente assumiu as negociações. À anistia, deu nome de pacificação e, em seguida, selou os acordos necessários para que a classe política pudesse respirar.
Para isso, falou com o Senado e a Câmara Federal; negociou com o deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), relator do Projeto de Lei da Anistia, e pós ver içadas as bandeiras brancas no campo da disputa política nacional, ainda arrematou a costura com um telefonema para Alexandre de Moraes. Tudo dentro da elegância e discrição que lhe são peculiares, demonstrando mais uma vez sua habilidade de dialogar nos momentos em que a preservação da estabilidade institucional se torna prioridade no país.
Temer mostra que seu talento de líder estrategista não é apenas uma habilidade de ocasião. Sua experiência é fundamental para navegação nos mares revoltos da política brasileira, que exige liderança e entendimento aprofundado sobre as complexidades do processo democrático. Já dizia o ditado: "o diabo é sábio porque tem idade". Temer, por sua vez, vira oráculo porque tem bagagem.
A classe política sabe o quanto vale o apoio de Michel Temer, sendo que as negociações para definição das chapas que entrarão na disputa presidencial em 2026 já passam por seu aval. A direita o respeita, a esquerda o monitora de perto. Ao final, todos querem lhe pedir a benção.
*Wilson Pedroso é consultor eleitoral e analista político com MBA nas áreas de Gestão e Marketing; além de sócio estrategista do Instituto de Pesquisa Realtime Big Data.

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