Luciano Vacari
A relação entre Estados Unidos e China sempre foi um dos eixos centrais da economia global, mas no último ano entramos num novo capítulo fascinante e complexo: a guerra comercial. O que começou com tarifas pontuais, transformou-se numa disputa estratégica pela liderança tecnológica mundial, onde as duas maiores potências econômicas do planeta travam uma batalha silenciosa, mas intensa, que redefine cadeias de produção, mercados consumidores e alianças internacionais. E é justamente neste cenário de tensões e realinhamentos que o Brasil surge com oportunidades únicas que podem transformar nosso futuro.
E no centro deste novo capítulo está a produção de tecnologia. Os Estados Unidos, berço do Vale do Silício e de gigantes como Apple e Google, buscam proteger sua vantagem inovadora e a segurança nacional, restringindo a transferência de conhecimento para a China. Por outro lado, a China, que já deixou para trás o rótulo de fábrica do mundo para se tornar uma potência em inteligência artificial, 5G e biotecnologia, investe pesado para alcançar a autossuficiência tecnológica. Esta disputa cria ondas de impacto por todo o globo, afetando desde o preço dos componentes eletrônicos até a forma como nos conectamos.
Paralelamente, o imenso mercado consumidor de ambos os países sofre transformações, já que as tarifas encarecem os produtos, levando empresas a buscarem fornecedores alternativos e os consumidores a repensarem seus hábitos. Enquanto isso, a necessidade de alimentar suas populações mantém os dois gigantes como os maiores importadores de grãos do mundo.
E aqui reside uma das mais brilhantes oportunidades para o Brasil. Somos um dos poucos países com capacidade comprovada para aumentar a produção agrícola de forma sustentável, fornecendo soja, milho e proteína animal para abastecer tanto o mercado chinês quanto o norte-americano, e esta posição privilegiada vai além da simples exportação de commodities.
A guerra comercial acelera a necessidade de diversificação das cadeias de suprimentos globais. Muitas empresas estão buscando operar em países neutros e estáveis para evitar os riscos das tarifas. O Brasil, com seu setor agroindustrial desenvolvido, seu potencial energético renovável e uma indústria que pode se beneficiar de investimentos em tecnologia, apresenta-se como um parceiro confiável e estratégico e de longo prazo, mas para aproveitar esta janela de oportunidade, precisamos de uma estratégia clara.
Em primeiro lugar, fortalecer nossa diplomacia econômica, mantendo relações positivas com ambos os lados, sem nos alinharmos automaticamente a nenhum dos blocos. Em segundo, investir em infraestrutura logística e em inovação no agronegócio, garantindo que nossa produção seja não apenas abundante, mas também eficiente e de alta qualidade. E finalmente, precisamos atrair investimentos que modernizem nossa indústria, permitindo-nos participar de cadeias de valor mais complexas, indo além da exportação de matérias-primas, o segredo é verticalizar.
O novo capítulo da guerra comercial entre Estados Unidos e China não é apenas uma disputa entre dois gigantes. É um convite para que o Brasil ocupe um lugar de maior relevância no tabuleiro global.
Com uma agricultura pujante, um mercado interno em crescimento e uma posição geopolítica equilibrada, temos todos os ingredientes para transformar este momento de incerteza internacional numa alavanca para nosso desenvolvimento. O desafio é grande, mas a oportunidade é histórica, e pode ser única.
*Luciano Vacari é gestor de agronegócios e CEO da NeoAgro Consultoria.
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