• Cuiabá, 28 de Março - 00:00:00

Conversas sobre duas ferrovias


Alfredo da Mota Menezes

                A Agência Nacional de Transporte Terrestre deu aval para prorrogar, por mais 30 anos, a concessão da empresa Rumo Logística nas ferrovias paulistas. A atual concessão terminaria em 2028, vai para 2058. Precisa ainda de um parecer final do TCU.

         A empresa se compromete a investir 4.7 bilhões de reais para recuperar aquela ferrovia. Pretende aumentar o transporte de 30 milhões de toneladas para 75 milhões até o porto de Santos ou 150% a mais. O que Mato Grosso tem com isso?

            Essa empresa é a substituta da ALL, aquela da Ferronorte até Rondonópolis. Se a Rumo não melhorar as rodovias de S. Paulo não tem jeito de aumentar a quantidade de bens transportados. Quem diria que MT ajudaria a melhorar a malha ferroviária de S. Paulo, hem?

            MT entra aqui. Agora dá para acreditar que essa ferrovia desça a serra para Cuiabá para subir até a região de Sorriso. O que aconteceu, se a empresa que antecedeu a Rumo devolvera a concessão para vir a Cuiabá ou subir para o Nortão, e agora se interessou em ter de volta a concessão antes descartada?  

            Apareceu no radar econômico dela a Ferrogrão, a ferrovia de Sinop a Miritituba. Essa ferrovia poderá levar praticamente toda a produção de grãos do Médio Norte e do Nortão do estado aos portos do sul do Pará. A Rumo, em tese, ficaria com a produção do sul de MT. Ia estagnar. A concorrência de outra ferrovia deve ter ajudado nessa tomada de posição.

            É preciso dizer que aqueles 4.7 bilhões de reais que a Rumo vai investir seriam somente na malha ferroviária do estado de S. Paulo. Vai ter que aportar outro dinheiro para descer a serra até Cuiabá e subir para o Nortão.

            Saem as duas ferrovias ou somente uma? O ideal seriam as duas. Que houvesse competição entre elas pelo frete, como é em qualquer lugar do mundo. Você sabia que a atual ferrovia em Roo, o frete é apenas 5% mais barato que por caminhão até Santos? Tem o monopólio, impõe preço. Com duas, em tese, estabelece-se a competição.

            Mesmo se as ferrovias não competirem já seria interessante. Se as duas se complementarem poderiam passar por cidades, lugares com agroindústrias, levar esses e outros bens e não somente grãos. Além de saírem por portos diferentes.

              Uma ferrovia de Sinop a Miritituba somente para grãos, se esse mercado um dia acabar, poderia repetir no futuro o fracasso das ferrovias do café de S. Paulo. Estão virando sucata.

            Se as duas se complementarem acabaria ainda outro receio que se ouve apenas em murmúrios pelos cantos desta cidade. A de que se for construída apenas a Ferrogrão, se a ferrovia ficar somente de Sinop para frente, poderia aparecer demagogos pedindo uma nova separação do estado.

           Pode não ocorrer nada disso, mas o zumbido histórico com o que ocorreu com a chegada da ferrovia Noroeste a Campo Grande poderia acender luz amarela por aqui.

 

Alfredo da Mota Menezes escreve nesta coluna semanalmente. 

E-mail: pox@terra.com.br    site: www.alfredomenezes.com      




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