• Cuiabá, 28 de Março - 00:00:00

Pantanal em risco


Rubem Mauro Palma de Moura

Dizia o meu pai; o Rio Cuiabá é o mais valente do mundo, pois com todas as agressões que vem sofrendo nesses quase trezentos anos de ocupação, ainda assim continua sendo fonte de sobrevivência para uma grande parcela da população ribeirinha.

Se vivo ainda fosse, constataria que ele está perdendo a batalha. Falo sobre o Rio Cuiabá, dando apenas como exemplo para o que vem acontecendo com o Pantanal mato-grossense, em risco pelas atividades existentes em toda a sua bacia hidrográfica, que vem fragilizando a fauna ictiológica e a vida humana.

Na segunda grande guerra, os aliados constataram crianças mortas nos campos de batalha, concluindo assim que os Alemães estavam perdendo a batalha. A prova mais inconteste de que os peixes estão em perigo, são pela presença maciça de peixes pequenos, jovens, povoando os nossos rios.

Em recente pesquisa realizada pelo Departamento de Saúde Coletiva da UFMT na bacia do Rio Juruena, constatações muito contundentes sobre os agrotóxicos usados nas lavouras e seu aparecimento em sangue e urina das pessoas pesquisadas e nas águas superficiais, subterrâneas e no ar, nos deixam apreensivos.

Se isso está ocorrendo nessa bacia hidrográfica, podemos por comparação, concluir que na bacia do Alto Paraguai o mesmo problema existe,pois, as culturas e os defensivos agrícolas usados, são os mesmos. O mais preocupante ainda é que resíduos de agrotóxicos proibidos na Europa, ainda aqui são utilizados, pois foram identificados. Acredito, que de todas as agressões que o Pantanal sofre, essa seria a mais perigosa, pois é imperceptível ao olho humano e altamente nocivo à vida humana e à fauna terrestre e principalmente a aquática.

Falando ainda de agressões provocadas pelo agronegócio, vamos discorrer também sobre a pecuária. Como no Pantanal a pecuária é praticada da maneira mais ecologicamente correta, inclusive detendo um recorde de preservação para áreas ocupadas, com apenas 18% da vegetação natural suprimida, sendo desse total 9% para substituição de gramíneas mais palatáveis para o gado e por consequência aos animais selvagens como o veado, a anta a capivara, a cutia, etc, verificamos que o perigo vem dessa atividade no planalto.

Ao visitarmos áreas de pecuária nessa região, assim também como detectado em apreciação de imagens aéreas, constatamos a ocorrência de voçorocas provocadas pelas enxurradas em terrenos alterados para essa atividade, assoreando os cursos d’água, além da supressão da vegetação, provocar enxurradas e pouca recarga dos aquíferos, tendo como consequência vazões maiores no período chuvoso e menores na estiagem.

O caminho do boi aos cursos d’água para a dessedentação é sempre também o caminho das águas das enxurradas, deixando essa ferida no solo. As nascentes, assim também como os cursos de água devem ser protegidos, se utilizando de tanques para a dessedentação desses animais.

Longe de mim ou de qualquer pessoa com o mínimo de bom senso, propor o fim dessas atividades que impactam ao ambiente pantaneiro, até mesmo por ser o carro chefe da nossa economia e que tem feito a diferença na balança comercial do país. Na agricultura, o uso com mais parcimónia dos agrotóxicos, a sua substituição paulatina por defensivos biológicos e cuidados ambientais como hoje por alguns já praticados como o plantio direto, o terraceamento com o uso das curvas de nível, a construção de bacias de contenção e infiltração nos talvegues, em muito contribuiriam para a minimização dos danos ambientas causados.

Recentemente quando da confecção do “PMSB 106”, Plano Municipal de Saneamento Básico de 106 municípios de Mato Grosso, constatamos que dos usos da água nos municípios estudados, em torno de 98% são para uso na agricultura e pecuária. Os pivôs para a irrigaçãosão sem dúvida alguma, o maior consumidor de água dessa agricultura moderna. Apesar de tudo isso, ainda há pessoas, despreparadas ou cegas, que atribuem às PCHs, (Pequenas Centrais Hidrelétricas) a destruição do Pantanal. Digo isso, no intuito de esclarecer, que as PCHs são de uso consuntivo, ou seja, não consomem água, usa-as para produzir energia e as devolvem alguns minutos depois ao leito natural, sem alteração de quantidade e qualidade e na maioria dos casos, sem interferir no processo migratório dos peixes, pois estão instaladas na descida do planalto, e ainda sem modificar o regime hídrico dos rios.

 

Rubem Mauro Palma de Moura é Mestre em ambiente e Desenvolvimento Regional, Professor aposentado da UFMT e consultor.




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