Mergulhado nas ações que primam pela maximização do desenvolvimento pleno da plataforma educacional chamada Universidade Federal de Mato Grosso, o secretário de Articulação e Relações Institucionais, maestro da Orquestra Sinfônica da UFMT, Fabrício Carvalho, expõe um cenário promissor e de conquistas quando o assunto é o plano de atuação da comunidade acadêmica.
Como esfera pública, a UFMT se depara com dificuldades, dependendo de resoluções extracampus para dar sequência em projetos, leia-se na área da saúde como o Hospital Universitário Júlio Muller “amarrado” na ineficácia de uma profunda burocracia do sistema.
Nesta entrevista ao FocoCidade, Fabrício Carvalho também discorre sobre o setor cultural, no qual está intrinsecamente envolvido, pontuando críticas à administração estadual na esteira de decisões que afetam o curso ideal de projetos e com reflexos amargos no meio.
Nesse viés, considera as dificuldades de ordem financeira, mas assevera ser mais um problema de gestão e de consolidação da “discussão coletiva” do que o simples aperto de cinto nos cofres públicos.
A educação pautada em seu avanço na qualidade do ensino, além de expansão como mola propulsora à transformação social, e como base essencial às mudanças buscadas, continua sendo o maior desafio frente às adversidades de políticas sob governos.
A entrevista, permeando ainda outros temas, foi concedida no início deste mês, antes de Fabrício Carvalho deixar a função de secretário.
Confira a entrevista na íntegra:
Recentemente o senhor fez duras críticas às políticas públicas dirigidas ao setor cultural, com ênfase no contexto do Estado. A administração falhou?
A administração estadual não considerou um fator muito importante nas relações públicas que é o que pensa a classe cultural. O diálogo deve ser, sempre, incessante e contínuo. Só assim é possível garantir efetividade nas ações, conhecimento do cenário e discernimento nas ações decisórias. É deixar de pensar no que “eu quero” para o que “nós queremos e precisamos”.
É, na sua opinião, um problema de gestão ou de recursos, considerando o aperto de cinto nos cofres públicos?
O cenário econômico é sim um fator limitante à quantidade de ações programáticas em política pública. Mas a qualidade independe. Explico: um bom programa de circulação e capacitação de recursos humanos pode ser pensado coletivamente levando em consideração questões e identificações locais, distâncias, posicionamento geográfico, IDH etc., com orçamento real e factível com a realidade. Já sua execução, essa sim depende do tamanho do cobertor. O X da questão aí é provar, politicamente na mesa do governador, que acesso à informação é fundamental na qualidade de vida dos mato-grossenses.
O X da questão aí é provar, politicamente na mesa do governador, que acesso à informação é fundamental na qualidade de vida dos mato-grossenses.
Na mesma ótica, como atua a UFMT no sentido de assegurar a massificação da arte e cultura?
Na UFMT as políticas de acesso à informação – seja ela cultural, esportiva, científica ou extensionista – têm o mesmo peso na mesa de negociação. Isso foi construído por décadas e ninguém tira mais da Instituição. É um “acordo social” que estimula o debate constante sobre melhoria, sempre considerando o que é necessário para a comunidade universitária e, por conseguinte, para a sociedade que habita os campus da Instituição. Nosso compromisso primário é a formação do cidadão e nesse compromisso a cultura entra como uma das primeiras condicionantes.
As falhas de gestão pública têm papel preponderante na falta de acesso ao setor pelas massas, leia-se a população mais carente?
Diretamente proporcional. Assim como as pessoas morrerão em maior escala se não houver saúde, segurança, rede de esgoto etc., sem informação – seja ela cultural ou qualquer outra –, os mais ausentes, fruto dessas falhas que você perguntou, serão eliminados primeiro da competição natural da vida e serão sempre os mais carentes, e seus filhos e netos, mais carentes ainda. No final das contas é uma questão de sobreviver socialmente com decência e independência.
Mas a educação também deve assumir essa responsabilidade, concorda?
Entendo a educação como um conjunto de informações que possibilitam uma visão melhor das coisas. Ter educação é ter ferramentas de sobrevivência e sobre isso é que o Brasil e Mato Grosso precisam se debruçar e resolver. Acesso de qualidade, massificado, disponível e para todos. No contexto da educação formal a cultura é início, é meio e é fim, parafraseando Raul Seixas. São indissociáveis, complementares, café com leite e pão com manteiga.
Nosso compromisso primário é a formação do cidadão e nesse compromisso a cultura entra como uma das primeiras condicionantes.
A UFMT tem se esforçado ao longo dos últimos anos não só para tornar ações culturais mais acessíveis, bem como o contexto geral dos trabalhos. O desenvolvimento de pesquisas e projetos sempre encontrou barreiras para chegar no outro lado, no mercado da aplicação que contribui para o desenvolvimento socioeconômico. Qual o grau de evolução desse trabalho hoje?
A UFMT tem feito sua lição de casa otimizando seus processos e projetos, fazendo chegar na comunidade suas principais pesquisas, descobertas, serviços, concertos, exposições, mostras de cinema e tudo mais que pensa e produz. Avançamos muito nos últimos anos nas relações sociais com o setor produtivo, que sempre nos convidou pra dançar e por vezes não aceitamos, e essa autocrítica temos que fazer reconhecendo alguns equívocos sim. A observação do que a sociedade espera da UFMT é baliza do Plano de Desenvolvimento Institucional que, a cada 5 anos, construímos e todas as macro-ações a serem implantadas devem estar ali contidas. Sempre um trabalho a várias mãos e coletivizado. Temos muito o que avançar ainda. O importante é que nosso vetor está apontado para o lado certo, agora é aumentar a velocidade.
A Fundação Uniselva tem assegurado um elo eficaz nesse quadro?
Eficaz e fundamental para o acesso à informação do nosso pesquisador e para que essa informação produzida possa chegar à sociedade. A Fundação Uniselva, por essência, apoia e viabiliza projetos em todas as áreas na área-meio, ou seja, facilita a compra de equipamentos, serviços, pagamentos, importação, o que na área acadêmica governamental é um achado, quase uma bênção. Está sob o olhar rigoroso dos órgãos de controle, o que garante a lisura e a tranquilidade da boa gestão. É independente funcionalmente mas dispõe de conselhos formados por professores e técnicos da UFMT que dividem a responsabilidade da gestão. Hoje, além de ser a fundação de apoio à UFMT, com muita alegria pra todos nós, apoia o Instituto Federal de Mato Grosso também.
Quais os avanços e principais obstáculos da UFMT para garantir a ampliação de planos de expansão, e o apoio do Governo Federal?
Nos últimos anos, com os planos de expansão do Governo Federal, além do próprio REUNI, a UFMT deu um salto sensacional na qualidade dos cursos oferecidos à sociedade e também no número de novos cursos, vagas e campus. O objetivo é continuar a garantir e ampliar a qualidade dessa expansão, bem como assegurar as conquistas já sólidas na sociedade. O obstáculo primordial neste momento é uma ausência de preocupação do Governo Federal com o assunto educação, refletida em um contingenciamento de recursos gradativo e altamente cancerígeno para a nação brasileira. Sofre a UFMT e sofrem todas as instituições públicas de ensino do país.
O obstáculo primordial neste momento é uma ausência de preocupação do Governo Federal com o assunto educação.
Como avalia a criação da Universidade Federal de Rondonópolis?
Necessária e fundamental para o desenvolvimento do Estado. A UFR é uma luta histórica e consagrou com êxito anos de lutas envolvendo comunidade acadêmica, representações políticas, associações, imprensa e a sociedade como um todo. A região de Rondonópolis é estratégica para o desenvolvimento do Estado e a UFR fará a diferença nesse ciclo que virá para Mato Grosso que é o da industrialização. A UFMT se sente muito honrada com essa criação, pois nasce do mesmo ideal: educação e integração para todo o Mato Grosso.
Como secretário, o senhor acompanha as discussões em torno da construção do novo Hospital Universitário Júlio Muller, com obras que vêm se arrastando ao longo dos anos. O vice-reitor da UFMT, Evandro da Silva, reclama que falta contrapartida do Estado, e a Secid responde que a Universidade tem falhas nos projetos...
Para a UFMT e para toda a sociedade a situação sempre foi muito clara: o Governo do Estado e a UFMT acordaram, em 2011, a construção, em parceria, de um hospital, necessário para minimizar o sofrimento dos mato-grossenses, principalmente aqueles que moram no Vale do Rio Cuiabá. O hospital teria 250 leitos e seria de média, alta e altíssima complexidade. Uma conquista enorme para todos. Em valores da época o hospital custaria aos dois cofres, Estado e UFMT, 120 milhões de reais divididos por igual. A UFMT até 2014 já tinha depositado os 60 milhões que lhe cabiam e o Estado ainda não e, para prejudicar tudo, a empresa contratada pela Secid não conseguiu dar andamento à obra e o contrato foi cancelado. Para resumir a ópera – trágica neste caso –, hoje a Controladoria Geral da União está orientando e ajudando a dirimir as dúvidas, esclarecendo os caminhos que deverão ser seguidos. A UFMT está pronta para acatar essas decisões.
Qual a importância da participação efetiva na política para assegurar mudanças e melhorias principalmente na educação e cultura?
A decepção com a nefasta, inescrupulosa e imunda estrutura político-partidária não deve se confundir com a participação política, a meu ver. Participar é cuidar, se solidarizar, fazer junto e construir coletivamente o bem comum. Participar politicamente é se instrumentalizar de informações importantes para realizar o que deve ser feito a todos, buscando o equilíbrio social. Quanto mais abrimos mão desse protagonismo, mais espaço é dado àqueles profissionais da vida pública que não têm nenhum compromisso com o coletivo. Essa equação, se não houver a participação das pessoas realizando o controle social, não fechará nunca. Em termos de educação e cultura – e aí incluo, me permita, a saúde, a segurança pública, a ciência e tecnologia, o meio ambiente, o turismo, a industrialização, enfim, a cidadania plena, mas ainda se faz necessária essa vinculação social política. O cuidado com o coletivo deve ser obrigação de todos, só assim avançaremos como sociedade.
A decepção com a nefasta, inescrupulosa e imunda estrutura político-partidária não deve se confundir com a participação política, a meu ver.
O nome da ex-reitora da UFMT Maria Lúcia Cavalli Neder é posto como via no pleito deste ano. A comunidade acadêmica poderá estar também representada com outros nomes, como o do senhor, aventado para o embate eleitoral?
A professora Maria Lucia Cavalli Neder, reitora da UFMT de 2008 a 2016, tem uma vida pública irretocável, experiência administrativa comprovada, compromisso com o desenvolvimento sustentável de Mato Grosso, diálogo franco e aberto com os mais diversos setores da sociedade e muita respeitabilidade social pelo que fez pela UFMT e por Mato Grosso nos últimos 45 anos. E o mais importante, a meu ver: está muito a fim de participar do processo e contribuir. Isso para mim é fundamental para qualquer atividade dar certo. Tive a honra de trabalhar com ela, ser seu pró-reitor e maestro no período em que foi reitora e a admiro como mulher, mãe, avó, professora e profissional. Ela será, sem dúvida, uma grande senadora da República por Mato Grosso. Quanto a mim, sou absolutamente fã do meu país e do meu Estado. Mais ainda das pessoas que se dedicam, que se empenham e que lutam diariamente para vencer na vida. Esse espírito alimenta em mim a crença de que ainda somos um país de futuro promissor e ético, que ainda podemos alçar voos mais altos e que ainda podemos crescer mais e mais como nação e como sociedade. Acredito piamente que só pelo trabalho poderemos chegar a esse momento e buscar ânimo para acordar todos os dias e ter fé de que muito ainda será feito. É esse espírito que alimenta em mim a utopia de dias melhores para todos nós.
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