• Cuiabá, 29 de Março - 00:00:00

Taques se reelege!?


Paulo Lemos

Lendo o noticiário dos derradeiros dias, deu para perceber que a guerra eleitoral de 2018, pelo menos para o Governo do Estado, já foi deflagrada, mediante artilharia pesada em face do atual governador, Pedro Taques (PSDB), em vários flancos, por adversários assumidos e outros enrustidos.

Porém, parece-me que o fogo "amigo" é o que mais está causando instabilidade e ingovernabilidade, até mesmo prejudicando, ao ponto de ser, ao meu ver, o único foco de incêndio que pode colocar em risco o projeto de reeleição do atual governador, por mim, nunca subestimada e descartada a referida hipótese, como vi e ouvi muita gente, até politicamente experiente, inclusive analistas políticos, prever e/ou fazer apostas, no mínimo, precipitadas.

Noutro texto prometo detalhar o porquê da minha avaliação quanto à reeleição, que não deve ser confundida com manifestação de aprovação ao governo ou apoio à candidatura alguma, e, sim, uma leitura do quadro e da quadra hodierna, desprovida de predileção política, tampouco proselitismo partidário.

Apenas para dar um pitaco sobre o que acho, sem estar fazendo comparação personalíssima entre os sujeitos históricos e agentes políticos, entretanto, de parte análoga da conjuntura de lá e de cá, invocando o passado, para levantar hipóteses no presente, sempre digo "- Lembrem-se da reeleição do Dante!"

Porém, voltando ao "festival de (in)fidelidades pantaneiras", Nilson Leitão, de "leal companheiro", desertou da função de "semeador de sonhos alheios" - se é que algum dia o foi -, assumindo a novel missão de "semeador de discórdias no ninho", inspirando fisiologismo e expirando divisionismo. Para mim, não é surpresa alguma a (in)compostura do deputado, que não tem nada de devotado ao altruísmo ou à conduta ilibada. Tem, sim, em ordem invertida, muita astúcia e paixão pelo poder.

Percival Muniz já chutou o balde e está atuando como técnico da outra seleção, sendo um desfalque de peso, na minha concepção. Um dos nomes com maior traquejo político e visão estratégica de Mato Grosso, ex-deputado constituinte, amigo e, naquele tempo, correligionário de Ulisses Guimarães.

Só não foi o primeiro dissidente a puxar a fila do racha, justiça seja feita, pois foi o presidente do partido de Leonel Brizola em Mato Grosso, o deputado estadual Zeca Viana, que fez essa proeza, logo depois do resultado das eleições passadas, inclusive, das da "Mesa da Assembleia".

Sentiu-se traído, passado para trás, assim como Muniz na eleição de Rondonópolis, e apertou o gatilho da metralhadora giratória, com bala na agulha e sem medo do contra-ataque, mostrando coragem e independência, até hoje sem cessar fogo ou se dispor a fazer pazes de novo. É pau na moleira, sendo uma paulada após à outra.

É nome forte para o Senado ou à Câmara dos Deputados. Até para o Governo (como o Fávaro), acaso a oposição se unisse em torno do nome dele, mais algumas forças e lideranças políticas que, mesmo mamando na teta do Executivo Estadual desde o início da gestão, fariam o desembarque sem pudor e/ou constrangimento algum, a pedido do seleto clube dos bilionários do "agrobusiness", desde que o apelo venha com garantias de rechonchudos aportes financeiros para as campanhas dos "arautos da ética e dos bons costumes", como se apresentam perante às câmeras, sendo que, contudo, quando estão longe dos olhos do povo, seguem o lema: "grana na mão, cueca no chão!"

Tais integrantes de uma pequena fração do agronegócio, aproveitam-se da condição de adictos e fissurados por poder e/ou dinheiro daqueles políticos venais que são praticamente irrecuperáveis, para conduzir o manche da aeronave, pondo "combustível" nela.

Os agentes políticos que são acometidos pela obsessão e compulsão epigrafadas no pretérito parágrafo,  eleição sim, eleição não, apresentam-se como "anjos puros e carregados de boas intenções", chegando a jurar observar as leis e a Constituição, depois de eleitos e quando tomam posse, apesar de viverem e se venderem, antes, durante e depois, no cabaré da politicalha, como políticos canalhas que são, sempre flertando e prontos para um programa, ao gosto do freguês, proclamando o seguinte mantra: "pagando bem, que mal tem!" Cheios de boas intenções, como eles, o inferno está superlotado e o diabo assustado.

São bem safados, com muito menos dignidade do que qualquer prostituta de ponto de ônibus ou gogo boy de nightclub - elas e eles, muito mais confiáveis, inofensivos e trabalhadores.

Mauro Mendes, matreiro como sempre, igual menino que bate e esconde a mesma mão que usa para afagar a vítima, apelidado como "Midas Mato-grossense" (assunto para outro post ou artigo), fica com um pé de cada lado, na espreita, para pular pro barco em que não entrar água, garantindo estar junto desde o início e ser um fiel tripulante, incapaz de virar a casaca ou pular do barco, sem ficar vermelho, frisar a testa, levantar o ombro, passar a mão na cabeça ou no cotovelo, olhando olho-no-olho (sem piscar), e mantendo o timbre da voz na mesma nota, parecido com vendedor de telemarketing, ou seja, bem treinado, artista de primeira linhagem.

Blairo, se faz de matuto, em que pese ser muito astuto, o mais "democrático" de todos; pouco importando-se com o nome e a sigla do candidato a ser apoiado por ele, e, sim, com os compromissos do pretendente, sobretudo de preservar e promover seu próprio projeto político e os interesses do seu grupo econômico, que, diga-se de passagem, vai de vento em popa, comprando fazenda de dois "bilhão", em plena crise e recessão econômica. Eita, "caboclo bom de negócio"!

Enfim, aparentemente, hão mais conspiradores na base, do que na oposição, para se preocupar. Até porque, do outro lado, os nomes apresentados até aqui ou estão em fase de aposentação, ou sem coragem ou, ainda, sem "café-no-bule".

Também falta ao grupo opositor projeto propositivo, que não seja somente pautado pela crítica da alegada ineficácia, engessamento, pouco diálogo e eleição de prioridades da atual gestão, com ênfase na situação precária do sistema de saúde pública e no tratamento ríspido dado aos servidores públicos, afora o escândalo dos grampos e alguns outros desmandos, que, abalaram as estruturas, no entanto, não demoliram por completo a imagem do governador, ainda considerado por muitos honesto, ao menos, sem a pecha de se locupletar com dinheiro público.

Não fosse suficiente, há um enorme desafio para os grandes partidos da oposição local, que é o de recuperarem a tempo e modo necessários e adequados o crédito perdido na praça, por força das operações que culminaram em prisões, em face de alguns dos seus membros de maior notoriedade até então, bem como da exposição pública de esquemas e de cifras milionárias, aquinhoadas ilicitamente, conforme já confessado e, em muitos casos, provado e comprovado.

Como diria Maquiavel, levando em consideração sua obra-prima "O  Príncipe", concebida à época da Itália fragmentada em diversos "principados", o baixinho precisará de muita habilidade, "simpatia" ou "vara de cipó", para unir a casa, para além do discurso da "casa arrumada", que certamente irá se repetir, ainda que por intermédio de metáforas e eufemismos.

Todavia, no tocante à segunda parte do pretérito parágrafo, na retórica, Pedro é crack! A dúvida é sobre a primeira parte, ou seja, na prática, se conseguirá ou não evitar ou minimizar a debandada, praticamente anunciada, da base-aliada, e garantir o financiamento do agronegócio para sua candidatura, mediante assunção dos compromissos citados acima ou de alguma carta guardada na manga ou debaixo da mesa.


Paulo Lemos é advogado em Mato Grosso.




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