Onofre Ribeiro
Há 13 anos nesta data escrevo um artigo reverenciando a lembrança da morte do meu filho Marcelo, de 29 anos, num acidente de moto em Salvador, em 2004. É sempre hoje. Foram anos de vivências diversas. As do primeiro momento, extremamente sofridas. As seguintes passaram da anestesia emocional à contemplação espiritual e a última que é a deste momento: gratidão. Como pode alguém sentir gratidão diante da morte de um filho querido? De fato, parece um contra senso. Não é!
Marcelo não foi o único jovem a passar antes dos seus pais. Milhares todos os dias. Cada um de uma maneira. Da mais calma à mais trágica. De todo modo, é uma passagem definitiva. Sem volta e sem recuperação de sentimentos. Fica uma saudade que vai se transformando ao longo do tempo. Entra na gratidão que falei acima.
Perguntei à minha mulher, Carmem, o que ela gostaria de dizer nesta data. Ela me disse duas coisas que cito agora. Uma, tocar a vida e continuar sempre em frente. A outra, a gratidão por Marcelo ter nascido nosso filho e por ter permanecido conosco por 29 maravilhosos anos. E acrescento: deixou-nos o Luka que caminha pra 16 anos. Um menino tão pequeno de 3 anos, hoje um rapaz muito parecido com o pai. Sereno e com a mesma voz rouca. Amoroso e lúcido. Cara do pai, cara do filho! Deixou-nos Daniela, nora e filha.
A família cresceu. André e nossa nora e filha Maria do Carmo, tem 3 netos filhos do Miguel e da Mariana. E nós os 3 bisnetos: Mateus, Vitória e Maria Luiza. Tem o Gabriel. Fabinho tem a Aline, nossa nora e filha. O Pietro que nasceu depois do Enzo. Tiago tem a Alice e nos trouxe outra nora e filha, Mariana. Meus cabelos teimam em branquear cada dia um pouquinho mais. Carmem continua serena e doce como sempre foi. A vida está seguindo. Nossos corações ficaram mais moles e aconchegantes. Grandes eventos trazem grandes transformações.
Confortamos tantas famílias que também experimentaram ver filhos partirem. Recebemos o aconchego de tantos corações amigos. Aos pais que passaram e aos que passarão pela essa estrada de curvas fechadas, sugiro: confiem. O tempo cura feridas profundas.
Com o passar do tempo os nossos corações serenaram e incorporamos a ideia de que temos os mesmos 4 filhos. Com a diferença de que o Marcelo não está presente fisicamente. Nunca dizemos que temos 3 filhos. Sempre, temos 4.
Hoje, pela data, naturalmente o coração amanheceu mais sensível. As lágrimas chegaram cedo. Mas não são de dor. São de lembranças e de gratidão. De boas lembranças dele, dos demais filhos, netos, bisnetos, noras-filhas e de tantos amigos que nos olharam, e nos olham com um generoso olhar de conforto.
A vida segue!
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
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