• Cuiabá, 28 de Março - 00:00:00

'O que tinha para acontecer de ruim, já aconteceu', assevera presidente do Sinduscon


Vinícius Bruno ? Especial para o FocoCidade

Desde agosto de 2016, o estoque de empregos do setor da construção civil vem diminuindo gradativamente. Foram nove meses de baixas, como número de demissões superando a quantidade de contratações, até que o cenário começou a mudar em abril de 2017, quando houve mais contratações que demissões no setor em Mato Grosso.

A realidade era bem diferente em um passado recente, mais especificamente nos anos que precederam a Copa do Mundo de 2014, quando a expectativa por uma nova era de negócios na quase tricentenária Cuiabá haveria de colocar essa porção de terra chamada ‘verde’ em status de cidade moderna e desenvolvida.

A realidade que veio logo após o mundial de futebol foi tão cinzenta, se não mais, que os blocos de concreto usados para as edificações. A palavra do momento era uma só - crise. O governo federal havia perdido as rédeas da economia, e os empresários passaram à deriva. O setor da construção civil foi um dos primeiros a dar sinal que 2015 seria de crise. A eficácia das projeções lançadas pelo setor é resultado da sensibilidade que o segmento tem na geração de empregos.

Basta que cessem as águas de março, que os meses subsequentes são de canteiros de obras a todo vapor. Vapor também era o que se via na expectativa dos empresários, na medida em que as condições de negócios cessavam continuamente. Pouco se esperava do governo petista em declínio, e a urgência por ações práticas que colocassem o barco em alto mar novamente, se refletia em mais vagas de emprego extintas.

De acordo com a Relação Anual de Informações Sociais (Rais 2015), o estoque de empregos gerados pela construção civil em Mato Grosso era de 47,203 mil vagas em 2014, no apoteótico ano da Copa, no ano seguinte, quando os canteiros de obras foram trocados pelo enxugamento das folhas de salário, o estoque desceu para 40,041 mil vagas, extinção de 15,17% dos empregos.

Hoje, algumas palavras que geravam algum tipo de ansiedade nos empresários parecem ter ficado no passado, como Copa, Dilma e crise. Para o presidente do Sindicato das Indústrias da Construção do Estado de Mato Grosso (Sinduscon/MT), Júlio Flávio Campos de Miranda, o pior que tinha para acontecer, já aconteceu, como pontua nesta entrevista ao FocoCidade.

Em uma conjunto econômica aparentemente mais favorável aos negócios, Júlio Flávio avalia que o país está caminhado para o rumo certo, apesar das nuvens de não saber ainda rondarem o Palácio do Planalto, em Brasília. O que ora, desvenda a escuridão para a classe empregadora é a polêmica reforma trabalhista, e os juros seguindo tendência de queda, tal como tem ficado a por vezes famigerada inflação.

Confira a entrevista na íntegra:

 

Os indicadores de atividade e confiança dos empresários da indústria da construção civil, em Mato Grosso, estão começando a recuperar índices mais animadores. O que tem garantido essa melhora? 

Entendo que os últimos dois anos, 2015 e 2016, foram muito ruins para a construção. Mas desde o final de 2016 até o fim do primeiro semestre de 2017 está havendo uma leve recuperação. Podemos chamar de crescimento sustentável do setor da construção e também da economia. Os estoques que as empresas tinham foram diminuídos, com isso, a maioria das empresas não têm o que vender, o que fará que terão que lançar novos empreendimentos. Já é possível verificar que algumas obras foram iniciadas. Também estamos com linhas de financiamento disponíveis, tanto por meio da caderneta de poupança, quanto pelos recursos do FGTS como no Programa Minha Casa, Minha Vida, e isso é importante, porque este recurso em especial ficou suspenso em 2015 até o primeiro semestre de 2016. Naquele período existiam diversas dificuldades para acessar linhas de crédito – tanto a construtora para construir, quanto o cliente para investir. Tudo isso atrapalhou muito o setor. Por outro lado, tivemos estabilidade nos preços, queda de renda do trabalhador brasileiro, o que levou a um pequeno percentual de distrato, o que também foi ruim para o setor. O que tinha para acontecer, já aconteceu. Se ainda existem alguns entraves, são em menores proporções. Por essa razão, é que os indicadores começam a melhorar, ainda mais porque o cenário hoje é de linha de crédito, controle de juros e da inflação, temos mão de obra disponível para construir, o aprimoramento das leis trabalhistas. Por fim, a economia em 2017 está melhor, apesar de todos os problemas políticos que ainda estão ocorrendo. O Brasil tende a voltar a ser a bola da vez quando o assunto é investimento, e havendo mais investimentos a tendência é que o cenário melhore.

Mas desde o final de 2016 até o fim do primeiro semestre de 2017 está havendo uma leve recuperação.

Qual é a expectativa do senhor em relação à economia? O setor da construção civil vai encerrar 2017 livre da crise?  

Acredito que como as dificuldades foram grandes para o setor, parte das empresas ainda vai ter dificuldades. Mas as empresas que vieram se aperfeiçoando com a crise, terão mais chances de serem melhor sucedidas neste momento de reconstrução da economia. As empresas que se reorganizaram, enxugaram custos, reviram os processos, terão ainda como vantagem o fato de que as empresas que não fizeram seu dever de casa, não conseguiram resistir a crise. Com isso, temos menos empresas no mercado, o que indica menor concorrência. Bom para quem ficou.

No âmbito político, ainda percebemos uma certa instabilidade, principalmente em relação às denúncias que envolvem a suposta participação do presidente Temer em negociações ilícitas. Apesar dessa perspectiva, os empresários demonstram avaliar o ambiente de negócios com mais positividade, algo que não acontecia durante o Governo Dilma. O que o presidente Temer tem feito de positivo para a economia, apesar de uma imagem marcada por investigações?  

Primeira vantagem do Governo Temer é a equipe econômica. É a melhor possível de se encontrar no mercado brasileiro hoje, tanto o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, ou o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, como os demais ministros das áreas estratégicas e staff econômico, em geral. E mesmo com tudo o que se fala em relação à possibilidade dele deixar a presidência, e comas chances de assumir o cargo, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, já existe a garantia de manutenção da equipe econômica. Diante disso, é possível dizer que a Economia hoje está em boas mãos, prova disso, é a leve retomada dos investimentos e cenário mais positivo que o país vem passando.

Nos últimos dois meses, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgado pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), tem apresentado dados positivos para a construção civil. Foram dois meses com mais contrações que demissões, depois de um bom período de o setor apresentar fechamento de vagas. O que está impulsionando a criação de empregos?  

Historicamente nos meses de abril e maio começam as contratações no Brasil. Mas neste ano, muito investidores já sentiram que é hora de investir. Os próprios governos têm arcado os compromissos nas principais obras públicas. O Programa Minha Casa, Minha Vida tem feito os pagamentos rigorosamente em dia. Tudo isso faz com que muitas empresas que não lançaram nos últimos dois anos, vejam a necessidade de lançar. A tendência é que para os próximos meses, a geração de empregos continue positiva na construção civil.

Em relação a investimentos. As construtoras estão mais propensas a voltar a investir? Existe previsão para lançamentos neste segundo semestre?

Muitos empreendimentos destinados a baixa e média rendas, em fase de lançamento. São casas, apartamentos, Minha Casa, Minha Vida faixas 1,5 e 2. Também temos vários empreendimentos para alta renda, já que estão disponíveis linhas de crédito para este nicho. E isso não estava acontecendo nos últimos dois anos.

O Estado precisa de uma política de incentivos mais agressiva e correta, criteriosa e prezando pela legalidade.

O mercado de alta renda também sentiu muito com a crise?

Sim. Todo o mercado em si sentiu. Só de se aumentar a taxa de financiamento dos imóveis, acaba impactando na comercialização. Muitos compradores da classe A utilizam financiamentos para adquirir imóveis. E a taxa de juros era em torno de 8% a 9% ao ano, que para o padrão Brasil é um valor bom. Durante a crise a taxa de juros para esta linha situou em torno de 12%, e agora está em torno de 11% e 10% ao ano, com tendência de queda, influenciada pela estabilidade da inflação em torno de 4%.

Quanto a suspensão dos recursos pró-cotistas da Caixa Econômica Federal até 2018, quais os efeitos negativos dessa decisão para o mercado? E como o senhor avalia essa medida? 

Não tenho conhecimento se vai ter mais recursos pró-cotistas. As informações é que neste ano não haverá mais. A verdade é que o governo precisou utilizar muitos recurso do FGTS para outras finalidades, tais como os saques das contas inativas e subsidiar outros segmentos econômicos. Como essa a linha pró-cotista tem a concorrência dos recursos da poupança, ela financia o mesmo tipo de imóvel financiado pela poupança, estrategicamente o governo priorizou o FGTS para financiar os contratos de menor renda, que é o Minha Casa, Minha Vida. Evidente que a suspensão deste recurso dá impacto, não temos dúvidas disso, já que existe uma diferença de 20% na taxa de juros entre os dois tipos de recursos.

E é inadmissível que com a evolução que vem ocorrendo ano a ano, a gente tenha uma lei tão antiga e amarrada como vem sendo.

A aprovação da Reforma Trabalhista no Senado traz uma nova perspectivas para os empregadores, embora continue a gerar desconfiança nos empregados. De que forma a Reforma Trabalhista vai auxiliar os empregadores e empregados?  

Tenho certeza que os empregados vão perceber vantagens, quando as mudanças da reforma trabalhista estiverem em vigor. As Leis Trabalhistas brasileiras são muito antigas. E é inadmissível que com a evolução que vem ocorrendo ano a ano, a gente tenha uma lei tão antiga e amarrada como vem sendo. Acredito que com o passar do tempo, haverá a mensuração das vantagens. Vale destacar que não se perde nenhum direito. As flexibilizações trazidas pela reforma na verdade preenchem gargalos, como em algumas atividades que não viável parar uma hora para almoçar, o que será uma vantagem para o trabalhador que poderá optar em sair mais cedo, quando fizer um menor tempo de descanso no almoço, por exemplo. Ninguém vai fazer acordo para prejudicar ninguém. O empregador jamais vai querer prejudicar o empregado. Passou o tempo da escravidão. Não é nenhum pouco inteligente retroceder. Por outro lado, também é preciso entender que a lei trabalhista como está tem dificultado a geração de empregos, e incentivado a improdutividade, assim como as milhares de ações. Com essa reforma vamos melhorar as condições de trabalho, o que é o anseio de mais de 15 milhões de brasileiros.

Falando em reforma, o que esperar da Reforma Tributária em Mato Grosso? Qual é a expectativa do senhor sobre este tema?  

Sou a favor dessa reforma, e acrescento que também se faz necessário impor tetos de gastos do Governo do Estado. Hoje o governo está com uma capacidade de investimento menor que um 1% daquilo que arrecada. A maioria das obras que vem acontecendo é através de financiamentos. A reforma tributária tem que ser bem eficiente em relação a outros Estados, e também para cada categoria. Também é necessário ter incentivos, principalmente para as indústrias. Está difícil permanecer, quando já instalado, imagina para começar do zero. O Estado precisa de uma política de incentivos mais agressiva e correta, criteriosa e prezando pela legalidade.




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