• Cuiabá, 28 de Março - 00:00:00

?Bancos e investidores estão governados pela desconfiança?, declara superintendente do BASA


Vinícius Bruno ? Especial para o FocoCidade

O caótico cenário político brasileiro ainda deixará a economia em stand by por mais um semestre, pelo menos. Com a sucessão de fatos ‘escandalosos’ que vêm revelado o protagonismo de agentes políticos na deterioração da República, as instituições financeiras se mantêm com o pé no freio.

Isso porque os principais fomentadores da economia, os consumidores – sejam pessoas físicas ou jurídicas – estão com baixa propensão para o investimento. A palavra que impera no cenário econômico e político do país é a insegurança, situação que aparentemente ainda está longe de revelar uma luz ao fim do túnel.

Da cúpula do mercado financeiro as medidas que resultam em redução gradativa da taxa básica de juros (Selic), reduzida a 10% ao ano na última semana, ainda não são suficientes para refletir em queda dos juros bancários. Com isso o crédito continua caro, as exigências de mitigação permanecem onerosas e arriscadas o que faz cada vez mais remota a ideia dos investidores capitar crédito.

Eis o cenário que restringe que um dos principais bancos privados regionais do país represasse em 2016 cerca de 15% do total de recursos possíveis para investimento, totalizando R$ 70 milhões. O Banco da Amazônia, conhecido por BASA, que completa 75 anos em 2017, aportou R$ 380 milhões em 2016, em Mato Grosso, mas tinha disponível R$ 450 milhões. O dinheiro não capitado ficou restrito porque investidores e instituição bancária estão receosos do presente e com o futuro.

Para 2017 a instituição tem disponível cerca de R$ 530 milhões, mas projeta que o valor a ser contratado nem chegará ao total que foi negociado no ano anterior (R$ 380 milhões).

Em análise a este cenário estressante vivido nos últimos anos, o superintendente regional do Banco da Amazônia em Mato Grosso e São Paulo, Donizete Borges de Campos, relata as medidas tomadas para diminuir os efeitos da crise. Donizete Borges é o entrevistado desta semana do FocoCidade.

Confira a entrevista na íntegra:

 

O que tem impulsionado a restrição ao crédito de forma tão incisiva?

A crise econômica. Estamos vivendo um momento de muita cautela, tanto para as instituições financeiras, quanto para os tomadores de crédito. O medo de capitar recursos reside principalmente, quando a pretensão é de investimento, isso porque não se enxerga um horizonte positivo. E a razão está justamente no fato de que os investidores não querem colocar em risco o próprio patrimônio, afinal, se forem capitar recursos, terão que dar garantias ao banco, e se porventura ocorrer algum problema e a garantia ficar comprometida, agrava-se a situação do investidor.  

O senhor enxerga luz no fim do túnel?

Por ora, não. Ainda vamos continuar este segundo semestre de 2017 na escuridão. Só vamos poder vislumbrar uma nova situação em relação ao futuro no final deste ano ou começo de 2018. Por enquanto a tendência é que o mercado financeiro continue fechado. Isso não é ser pessimista, é a realidade, que impede que os investidores cheguem aos bancos e tomem recursos como faziam antigamente, com mais facilidade.

Vamos continuar este segundo semestre de 2017 na escuridão.

Na última semana o Comitê de Política Monetária (COPOM) reduziu a taxa básica de juros a 10,25% ao ano. Que reflexos isso provoca nas instituições financeiras?

A redução de 1 ponto percentual na taxa básica de juros ainda é muito baixa. Tanto é que os juros continuam altos. Ainda é pouco para que possamos incrementar e alavancar os negócios. O próprio tomador de crédito não enxerga um sinal positivo em relação a essa redução. Pois a taxa de juro na média de 10,25% ao ano ainda é cara. Em média nossos juros – Banco da Amazônia – estão entre 13,5% e 14% ao ano, dependendo da linha de crédito.

Em razão da recessão e do cenário econômico, as instituições financeiras ficaram retraídas.

Dentre as linhas de crédito ofertadas pelo Banco, quais as mais demandadas?

Crédito Rural é o mais forte, tanto para custeio e investimento. Também temos a linha de crédito empresarial para qualquer tipo de investimento e, capital de giros para micro e pequenas empresas. De janeiro a maio deste ano foram aplicados R$ 250 milhões, entre recursos próprios e de fomento. Do total, cerca de 60% dos recursos foram capitalizados para custeio rural – tanto agricultura quanto pecuária. Os 40% restantes foram demandados por agentes da área comercial.

Como foi o desempenho do Banco da Amazônia no ano anterior em relação a liberação de crédito?

No ano passado aplicamos cerca de R$ 380 milhões em Mato Grosso. Em razão da recessão e do cenário econômico, as instituições financeiras ficaram retraídas. Também houve problemas em relação à escassez de recursos de um modo geral. No nosso caso, embora temos recursos para atender a demanda, os bancos estão todos cautelosos, em razão da crise que estamos vivendo.  

Quanto o Banco disponibilizou este ano para aplicar nas linhas de crédito ofertadas?

Temos disponível o equivalente a R$ 530 milhões, mas acredito que este ano não vai conseguir superar o ano passado, mesmo tendo cerca de R$ 80 milhões a mais para investimento – valor que aumentou com a designação da superintendência de São Paulo para minha responsabilidade. Em São Paulo temos uma única agência, enquanto em Mato Grosso são nove.  

Entre os fatos que agravam a crise econômica, as Operações que desvendam os escândalos de corrupção no país têm refletido nas relações do mercado financeiro?

Sem dúvidas. A economia está sendo abalada, embora podemos dizer que ainda não sentiu todos os efeitos de fato. Mas já começamos a sentir. A salvação de Mato Grosso é o agronegócio, que sempre foi o setor de estabilidade da economia, mesmo em tempos caóticos se mantém em pé.

Mato Grosso tem sorte de ter o Agronegócio.

Entre as reclamações dos agentes financeiros está a inadimplência dos clientes. Como o Banco da Amazônia tem lidado com isso?

De fato a inadimplência aumentou muito. Os bancos têm buscado negociar com os devedores, adequando-se à capacidade de pagamento de cada um, que eventualmente esteja inadimplente. Esta postura existe porque é o cenário quem dá as cartas deste jogo. Muitas vezes a inadimplência não é em razão da má fé. Muitos desses clientes, que ora não conseguem se manter adimplentes, nunca tiveram problemas com o banco, mas a situação do país fez com que ficassem dessa forma.

Qual é a taxa de inadimplência hoje, e existe tendência de aumento na taxa de inadimplência?

Hoje a taxa de inadimplência está acima de 5%, que é além do aceitável. Acredito que não deverá aumentar este ano, pois é há esta postura do banco de flexibilização e sensibilidade para lidar com os clientes inadimplentes. Temos buscado estes clientes e ofertado negociação.

Na última semana, o IBGE divulgou o PIB do primeiro trimestre de 2017. Houve crescimento de 1% sobre o trimestre imediatamente anterior, graças ao agronegócio que sozinho foi responsável por cerca de 70% deste montante. Por outro lado, a expectativa do mercado é que o segundo trimestre assim como os demais de 2017 não tenham o mesmo desempenho. O que esperar?

De fato, o primeiro trimestre do ano é o mais forte para o Agronegócio, porque é quando se colhe a soja, e as negociações são mais incisivas. Diante disso, um PIB instável nos demais trimestres significa menos recursos para a economia. Se há menos recursos, desaquece a economia. Com isso, os juros ficam altos, e a tendência é que a situação permaneça como está. Para piorar, qualquer coisa que acontece no âmbito político hoje reflete na economia, principalmente, freando os bancos.

Diante de toda essa conjuntura, e ressaltando a perspectiva da missão do Banco da Amazônia, como é fomentar a economia hoje na Amazônia Legal?

É um desafio, principalmente a questão ambiental, tão falada atualmente e que oferece muitas dificuldades para alocar recursos na região da Amazônia. Poderíamos alocar muito mais do que os R$ 5 bilhões, que anualmente o Banco oferta nos Estados onde está presente. Mas os entraves da ilegalidade são o que dificulta. Com isso, menos emprego é gerado, menos renda é produzida e menos negócios deixam de existir. 




Deixe um comentário

Campos obrigatórios são marcados com *

Nome:
Email:
Comentário: