• Cuiabá, 29 de Março - 00:00:00

'Vejo que o Estado deve procurar o caminho da atenção primária', diz Rubens de Oliveira


O presidente da Unimed Cuiabá, Rubens Carlos de Oliveira, médico patologista, afirmou em entrevista ao site Foco Cidade que a empresa também foi atingida pela crise que assola o país. Segundo ele, muitos são os reflexos do atual sistema econômico, mas ainda assim, a Unimed se fortalece como a primeira empresa em se tratando de planos de saúde.

Rubens destaca ações que devem ser tomadas neste segundo ano à frente da Unimed Cuiabá. Uma delas diz respeito à criação de novos planos que possam atender diversas camadas da sociedade, visto que o custeio de um plano privado ainda é inacessível para grande parte da população, que fica a mercê do Sistema Único de Saúde (SUS).

A diretoria da Unimed deve promover profundas mudanças nas áreas de administração, finanças e marketing. A cooperativa médica tem orçamento anual de R$ 300 milhões e se compara a receita de grandes cidades como Sinop, Rondonópolis e se aproxima de Várzea Grande.

Rubens também opina sobre a dificuldade encontrada pelo Estado quando o assunto é saúde pública. Mesmo assim, ele garante que os planos particulares só sobrevivem por causa da ineficiência do que seria uma obrigação do governo, de garantir saúde de qualidade à população.

Em um 'conselho' ao governador Pedro Taques, Rubens cita a importância da prevenção de doenças. Para ele, se houvesse investimento na prevenção, uma economia seria gerada no tratamento, o que desoneraria os cofres públicos.

Confira a íntegra da entrevista com Rubens Carlos de Oliveira:

 

A crise econômica que atinge o Brasil trouxe reflexos para as operadoras de planos de saúde?

Em decorrência da situação macroeconômica do país, estamos vivendo séria crise, tanto institucional, política, como econômica. Pegamos a Unimed em abril. Uma Unimed que era a sexta maior empresa, hoje é a quinta, e tem muito trabalho.

Como foi esse primeiro ano de gestão ?

Mudamos a estrutura organizacional da empresa, fizemos o enxugamento da máquina administrativa, controlamos custos desde controle de marketing, como custo administrativo. Foi um primeiro ano de muito trabalho e esperamos que seja um segundo ano de mais trabalho ainda e o terceiro, ainda mais.

O senhor citou a crise econômica. Quais os reflexos?

Nós sofremos a consequência de toda essa situação.  Veja, por exemplo, essa situação da Operação Carne Fraca. Mato Grosso é o maior celeiro  de agropecuária e com isso há uma diminuição do volume de dinheiro. E é uma cadeia produtiva, carne, milho e soja. Consequentemente  o empresário vai sofrer impacto e ele para de pagar o plano de saúde. Então estamos aqui junto com nossa diretoria, trabalhando fortemente para nos adequar a essa situação econômica. Temos uma percepção que sem uma melhoria do contexto político nacional, não haverá melhora.

Em números, qual o impacto da crise?

O setor de saúde sofre isso. No ano passado houve uma perda de 1,6 milhão de vidas no sistema de planos de saúde. Desse montante, um milhão era do sistema Unimed. Sofremos drasticamente essa recessão e estagnação que o país está sofrendo. Tínhamos  no início de 2016, 45 milhões, hoje temos 43,5 milhões. E dessas 1,6 milhão de vidas, eu falo de Bradesco, Amil, Sul América, desse total de 1,6 milhão, 1 milhão de vidas que deixaram de pagar plano de saúde foi do sistema Unimed.  O estado de Mato Grosso, no contexto do Centro Oeste, é o que mais sofreu, nós tivemos uma perda no estado de Mato Grosso de 15 mil vidas e estamos num momento de muito trabalho. Conseguimos equilibrar, que era o nosso objetivo para o primeiro ano,  mas o trabalho é estrutural. Estamos trabalhando na estrutura, na longevidade da operadora. Temos que fazer investimentos para poder continuar essa caminhada nossa.

No ano passado houve uma perda de 1,6 milhão de vidas no sistema de planos de saúde.

Em Cuiabá, qual a realidade desse quadro?

Nós somos em torno de 217 mil vidas em Cuiabá, 1.320 médicos 1.170 colaboradores. Estes são os números da Unimed Cuiabá.

Nesse aspecto, o plano de expansão foi atingido?

O primeiro ano foi o ano da mudança. Refizemos o planejamento estratégico da empresa, mudamos o contexto organizacional administrativo e nesse segundo ano nosso objetivo é melhorar nosso relacionamento tanto com o nosso usuário, como com nosso cooperado. Formatar novos modelos de planos de saúde para ser vendidos, porque temos a consciência que com a crise temos que ser inovadores.  Esse é nosso lema para este segundo ano. Criar novos modelos de planos de saúde para alavancar nossas vendas, adequado ao gosto do nosso usuário, que hoje está sofrendo com o desemprego. Eu recebo diariamente 20 currículos. O que eu cobro da nossa parte de superintendência é que temos que criar. Melhorar a questão administrativa e fazer como fazemos em casa. Eu, por exemplo, saio daqui toda noite e tomo o cuidado de desligar o ar condicionado. São cuidados que temos na nossa casa para gerar economia.

Como avalia o Sistema Único de Saúde e mais especificamente em Mato Grosso?

A deficiência no SUS é uma consequência. Em 1988 foi colocado na Constituição que saúde é um direito de todos e um dever do Estado. E isso repercute. As pessoas têm dificuldade de ter acesso. Por isso procuram  um plano de saúde. Se a saúde pública fosse perfeita não teríamos os planos de saúde. 

Se a saúde pública fosse perfeita não teríamos os planos de saúde. 

Muitas pessoas que têm um plano de saúde reclamam quanto à demora, por exemplo, no agendamento de exames, consultas.

A Agência Nacional de Saúde (ANS) regulamentou no ano passado normas que a Unimed vem seguindo. A Unimed Cuiabá atende rigorosamente em dia. Criamos um novo modelo que é para quando não se consegue (atendimento) com determinado profissional, nós temos o pronto-atendimento para dar vazão a isso.

A carência e restrições em casos de doenças preexistentes também são pontos questionados para quem analisa a adesão.

A restrição em alguns casos é uma norma da Agência Nacional de Saúde. Por exemplo, no caso de doenças preexistentes a ANS mesmo diz que há uma carência de 24 meses. Nós não inventamos a roda. A ANS é quem impôs isso a nós.

Nós não inventamos a roda. A ANS é quem impôs isso a nós.

Qual o panorama da saúde pública atualmente?

A saúde pública é muito complexa. A demanda é grande. Os recursos são parcos. O governador Pedro Taques tem trabalhado muito nisso, de tentar melhorar essa situação, mas é muito complexo. Eu falo do sistema Unimed que hoje tem 400 mil usuários em um estado que tem uma população de 3,2 milhões de pessoas. Então a demanda de pessoas que não têm a cobertura da saúde complementar é muito grande. Eu acredito que há uma necessidade na mudança no tipo de atendimento.

O que o senhor sugere?

Aqui na Unimed, por exemplo, criamos a atenção primária. Ou seja, eu não quero que você fique doente. Eu quero que você tenha uma boa saúde. Então nós criamos esse setor porque queremos nosso usuário saudável. Práticas desportivas, orientações, vamos formar esse grupo de usuários não para ficar hospitalizando.  Isso é o ganha-ganha. Com o usuário diminuindo a quantidade de consultas, eu diminuo também o reajuste dele. É o modelo que hoje adotamos. Vejo que o Estado deve procurar o caminho da atenção primária. Não deixar o cliente adoecer e sim cuidar dele antes que ele adoeça.




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