• Cuiabá, 16 de Abril - 00:00:00

?Economia de MT tem que ter choque de modernidade?, sugere Evaldo Silva


Vinícius Bruno - Especial para o Foco Cidade

Notório seguidor das teorias clássicas das Ciências Econômicas, o superintendente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Mato Grosso (Fecomércio/MT), Evaldo Silva defende com ortodoxia o corte de gastos públicos e a privatização como “caminhos saudáveis e necessários” para o desenvolvimento do Estado e do país.

Silva é economista e presidente do Conselho Regional de Economia de Mato Grosso (Corecon/MT), membro do Conselho Federal de Economia (Cofecon) e vogal na Junta Comercial de Mato Grosso (Jucemat). Com 57 anos de idade, Evaldo Silva acumula especializações em Ciências Econômicas, Propaganda e Marketing e Gestão Empresarial.

Entre as principais ideias defendidas por Evaldo Silva está o engajamento dos setores produtivos nas discussões políticas e econômicas, para que as regras que dominam o mercado sejam favoráveis ao crescimento e a alta produtividade, fatores que o especialista diz considerar essenciais para a competitividade.

Em uma análise do cenário macroeconômico atual, Evaldo pondera que o pior da crise já passou para diversos setores, menos para o mercado de trabalho, que ainda não chegou ao fundo do poço. Para Mato Grosso, o superintendente da Fecomércio/MT recomenda que os melhores caminhos para um “choque” são a privatização e modernização da economia, quanto que para o país, a concretização das reformas, que resultará em segurança jurídica e ambiente de negócios favorável a atração de investidores estrangeiros e nacionais.

Foco Cidade - Desde o último bimestre de 2016 o mercado financeiro vem reagindo de forma positiva às medidas de estímulo à economia, promovidas pelo presidente Michel Temer (PMDB). O senhor acredita que a tendência de queda na taxa básica de juros e na inflação deverão continuar até ao final deste ano? 

Evaldo Silva -  O mercado financeiro ainda não projeta um aumento do ritmo de corte de juros. Na semana passada, os economistas dos bancos, em pesquisa conduzida pelo Banco Central, estimaram que o Comitê de Política Monetária (Copom) manterá a velocidade atual, e cortará os juros para 11,50% ao ano em abril, para 10,75% ao ano no fim de maio, e para 10,25% ao ano em julho. O Banco Central já sinalizou que uma possível intensificação da velocidade de redução dos juros dependerá da estimativa da extensão do ciclo e da evolução da atividade econômica, dos demais fatores de risco e das projeções e expectativas de inflação. Outros fatores que deverão produzir uma queda estrutural da taxa de juros são as reformas fiscais, previdenciárias e todas as outras reformas e ajustes necessários na economia. Por outro lado, penso que o maior desafio do governo federal é diminuir o spread bancário, e ele (governo Temer) trabalha nesta direção. A redução do spread significa diminui a distância da taxa básica com a taxa final cobrada pelos bancos. Essa distância ocorre por vários motivos, entre os quais a busca pelo lucro, a incidência de impostos diretos, compulsórios, custo administrativo, inadimplência e insegurança jurídica. Logo a diminuição da taxa básica do Banco Central não representa uma imediata baixa do spread bancário, e como consequência uma baixa nos juros tomados pelas pessoas jurídicas e físicas. Mas no longo prazo sinaliza uma diminuição desses juros. Penso que a Política Monetária coerente com os princípios da teoria econômica, e sem ideologia, contribuirá fortemente para a retomada do desenvolvimento econômico. Políticas, como a Cambial, também estão sendo implementadas e demonstram outra alavanca da retomada do crescimento das importações de insumos básicos para abastecer as indústrias, da mesma forma que garante uma política cambial mais realista para as exportações.

Foco Cidade – E as políticas de atração do capital estrangeiro, como se desenha neste cenário?

Evaldo Silva – É de fato, uma importante Política Econômica do atual governo, cuja atração da poupança internacional está sendo realizada através das privatizações. A teoria econômica indica que só existe crescimento econômico com investimento e só é possível o investimento com poupança, e como esta nos falta no Brasil, temos que atrair o capital internacional. Este capital necessário impõe uma segurança fiscal, ou seja, o governo tem que demonstrar que gasta o que recebe e nisto foi importante o Governo Temer aprovar com grande maioria o Teto das Despesas Públicas. Mas para atrair este necessário capital e trazer segurança ao empresário nacional é importante também o governo aprovar a Lei da Previdência, Trabalhista e Tributária para que o Brasil fique igual aos outros países em desenvolvimento na vantagem comparativa.

O mercado de trabalho ainda não chegou ao fundo do poço. E depois que chegar boa parte da mão de obra será substituída por tecnologia

Foco Cidade - Na economia mato-grossense é possível perceber avanços nos últimos meses? E o que esperar até dezembro deste ano? 

Evaldo Silva - A economia mato-grossense tem que ter um choque de modernidade privatizando e atraindo o capital internacional procurando uma vantagem comparativa de segurança jurídica e infraestrutura, privatizando tudo que for da produção de bens e serviços. O prefeito de São Paulo esteve no exterior e está trazendo grandes investidores internacionais. E muitos estão esperando o convite. É a nossa chance de atraí-los.

Foco Cidade - Pode-se dizer que o pior momento da crise econômica já passou? Ou ainda existem riscos para os setores produtivos? 

Evaldo Silva - Todos os indicadores macroeconômicos nos indicam isto, que o pior passou, e o que não melhorou, estabilizou. O emprego é o único que ainda não chegou no fundo e será o último a estabilizar e voltar a crescer mas não só no Brasil, mas, em todo o mundo grande parte dos empregos, talvez 80% deles, não voltarão como antes, pois estão sendo substituídos pela tecnologia, inovação e agora também pela inteligência artificial. E aí fica aquela eterna solução nunca aplicada em nosso país, a educação. Vamos esperar que o Governo Temer coloque como prioridade, parece que está indo nesta direção

Foco Cidade - O que esperar da reforma tributária em tramite na Assembleia Legislativa de Mato Grosso? E o que o senhor pondera como importante nessa reforma? 

Evaldo Silva - Esta reforma poderá diferenciar nosso Estado dos outros na atração do capital internacional e o nacional. E só com esta poupança que teremos investimentos e crescimento sustentável. Ficando mais privado e menos público. E o que não pode faltar é incentivo ao setor produtivo. Para que os investidores sintam-se atraídos para investir em Mato Grosso. Sem incentivos é difícil atrair grandes indústrias ou redes do varejo, porque os desafios logísticos já são caóticos o suficiente.

Foco Cidade - Números da Fecomércio/MT demonstram que a expectativa dos empresários do comércio está acima do indicador de indiferença (100 pontos) chegando a 105 pontos em fevereiro. Esse otimismo que começa a se fortalecer é pautado basicamente sobre quais fatores? O nível de inadimplência do consumidor é preocupante? 

Evaldo Silva -  O nosso Estado é o último a entrar nas crises e o primeiro a sair, isto se deve ao espírito empreendedor, criativo e de vanguarda dos empresários do comércio, e também porque o nosso Estado é muito forte no agronegócios, e toda a expectativa que existe lá fora repercute aqui.

Foco Cidade - O levantamento da Confederação Nacional do Comércio (CNC) apurou o fechamento de mais 3,3 mil empresas do varejo em Mato Grosso e 108 mil no país. Onde está a fragilidade das empresas do varejo?

Evaldo Silva -  Os fatores preponderantes para a queda drástica no nível de consumo, que consequentemente levou ao fechamento das empresas são: falta de crédito e juros altos, que impulsionaram a diminuição da demanda. O crédito restrito e caro implica em menor disposição para a aquisição de bens duráveis, principalmente aqueles que demandam por financiamento.

Foco Cidade - O cenário atual já pode ser considerado positivo para os investidores, tanto nacionais quanto os estrangeiros? Por quê? 

Evaldo Silva - Ainda não. Temos países como o Paraguai que está na nossa frente na atração do capital internacional, inclusive o empresário brasileiro, por oferecer segurança jurídica e tributos e juros de primeiro mundo. Mas estamos neste caminho.

Foco Cidade - A intenção de consumo das famílias também tem demonstrado índices muito baixos. Em Fevereiro, a pesquisa da Fecomércio apurou 69,1 pontos, indicador distante do usual acima de 100 pontos. Confrontada com a expectativa dos empresários do comércio, é possível analisar que os consumidores estão mais receosos que os próprios investidores? Isso se dá porque o consumidor, principalmente de baixa renda faz parte de um polo mais frágil da cadeia econômica, quando o assunto é capital? 

Evaldo Silva -  Devemos ter este cenário neste primeiro semestre e deve melhorar a partir do segundo semestre de 2017. O esperado desempenho positivo da produção no campo poderá impactar positivamente neste aumento de demanda agregada. 

Foco Cidade - Como o senhor avalia a relação política estadual (Executivo, Legislativo e Judiciário) e os setores econômicos, principalmente do varejo? 

Evaldo Silva - Vejo hoje que as relações políticas entre Executivo, Legislativo e Judiciário muito em sintonia, o que é muito bom. Só está faltando um pouco mais de sintonia com os setores econômicos do Estado, e isso repercute na população como um todo. 

Foco Cidade - Como tem sido a participação da Fecomércio nos trabalhos da Comissão Especial do Comércio na ALMT? Quais resultados já foram colhidos até agora? E o que a Fecomércio espera da citada comissão?

Evaldo Silva  -  A participação da Fecomércio foi fundamental pois foi através da entidade, que foi criada a Frente Parlamentar em Defesa do Comércio, na pessoa do presidente Sr. Hermes Martins da Cunha, que fez a solicitação ao Deputado Oscar Bezzera, e que teve a participação de vários deputados e com o apoio e aprovação dos demais. E pela primeira vez tivemos todas as entidades do setor produtivo, principalmente as federações FCDL e FACMAT, juntas com a Federação do Comércio.

 

 

 




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