• Cuiabá, 29 de Março - 00:00:00

A falta de Planos de Governo

A poucos dias da definição de quem governará o estado de Mato Grosso pelos próximos quatro anos, observa-se que nenhum dos candidatos disponibilizou um Plano de Governo estratégico para o Estado. Tanto na esfera pública quanto na privada. Nem todo plano ou planejamento é estratégico e entender isso é de fundamental importância para se alcançar resultados efetivos. 

Não é de hoje que, ao traçarem e definirem Planos de Governos, os candidatos apresentam mais meios do que fins, ou seja, resultados efetivos para o cidadão. Meios são aqui entendidos como as estratégias e ações, o “como fazer”.  

Vimos, no início deste governo, a compra de diversas viaturas e aumento de efetivo para a Polícia Militar como medida de segurança para o Estado. Observou-se, no entanto, que não foram identificados índices ou metas traçadas para a área. Ainda, não houve gestão da segurança em todos estes anos, vide os assustadores índices de violência no Estado, divulgados pelo IPEA e Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), cuja taxa de homicídios em Mato Grosso é de 35,7 para cada 100 mil habitantes e está acima da média nacional, de 30,3. 

Um mundo prático como o que vivemos hoje exige soluções práticas e imediatas. É preciso que o cidadão sinta o impacto direto de medidas estratégicas adotadas por governantes. Sabe-se que não é tarefa fácil governar um Estado cujas dimensões territoriais são enormes, com problemas latentes, sem um planejamento estratégico que traduza em dados e ações o que é necessário para se chegar a soluções efetivas. Faltam nos Planos – que hoje mais se assemelham a cartas de intenções – propostas que envolvam a população na busca de resultados efetivos.

Fala-se sempre em aumentar leitos de UTI como solução para o problema da saúde no Estado, ao invés de se adotar medidas estratégicas que garantam qualidade de vida ao cidadão. Ainda, são necessárias práticas que visem bons resultados no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), que combina as dimensões “vida longa e saudável”, “acesso ao conhecimento” e “padrão de vida decente”. 

Resolver o problema do saneamento, por exemplo, pode contribuir para erradicar as doenças causadas pela falta dele e, assim, reduzir as lotação e as filas de esperas em hospitais. No entanto, segundo levantamento da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes), embora o abastecimento de água de Cuiabá atinja 98,13% da população, isso não significa que se tenha saneamento, uma vez que este passa por questões como rede e tratamento de esgoto e destinação correta de resíduos sólidos. Em Cuiabá, apenas 1,65% dos resíduos sólidos coletados tem destinação adequada e, em todo o Estado, mais de 70% dos domicílios não possuem rede de esgoto, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Outro foco seriam ações estratégicas para melhorar os índices de educação nas escolas. Primeiramente é preciso superar a questão do acesso à educação e permanência nas escolas e, posteriormente, traçar ações que visem alcançar a proficiência dos alunos segundo os parâmetros definidos pelo Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). Nessa área, Mato Grosso enfrenta um desafio gigante: dados recentes do Ideb mostram que em escolas públicas ou particulares, o estudante continua saindo do Ensino Básico sem conhecimentos mínimos do currículo escolar exigido. A última pesquisa mostra que, quando analisados os índices combinados entre instituições de ensino públicas e privadas, o índice de Mato Grosso fica em 3.5, abaixo da meta nacional de 4.7.

Outro exemplo seria promover programas na área da educação voltados à família como um todo, de modo a envolver os pais no processo educativo dos filhos, participando ativamente da vida escolar. Outro, são ações estratégicas voltadas à prática da humanização no verdadeiro sentido de convivência e conscientização do trato com o outro, com foco na diminuição dos índices de violência e insegurança pública, que tem crescido ano após ano.  

Candidatos, a população precisa de resultados estratégicos a partir de medidas resolutivas. Para isso, é fundamental estudar dados, rever índices e traçar estratégicas para, a partir de análises fundamentadas, propor ações de melhorias ao Estado. Infelizmente, não notamos esta prática nos últimos pleitos. A sugestão é, então, conscientizar o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) sobre esta demanda e necessidade, de forma urgente, em cobrar dos candidatos Planos de Governos com indicadores e metas estratégicas, em substituições às cartas de intenção. 

A responsabilidade também é de cada um de nós. Um Plano de Governo eficiente é o que beneficiará a todos nós, cidadãos, para usufruirmos de um Estado melhor e mais eficiente. 

 

Elisabete Queiróz é pedagoga, especialista em Didática e em Dinâmica de Grupos, é mestre em Administração de Empresas pela Universidade Extremadura (Espanha) e fundadora da Travessia Desenvolvimento Organizacional



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