• Cuiabá, 19 de Abril - 00:00:00

Rupturas

Escrevi o artigo no início da semana que passou “O confronto nos aguarda”. Nele tracei o ambiente de extrema polarização a que chega a eleição presidencial neste primeiro e  no segundo turnos. Coloquei que dois candidatos disputarão o pleito,  em lados opostos no ringue: Jair Bolsonaro e Fernando Haddad. Do ponto de vista ideológico também nos extremos. O rótulo de um é o de ser de direita e o do outro de ser de esquerda. Apesar de não ser exatamente verdadeiro, é assim que ambos caminham nesta eleição.

O artigo despertou três tipos de reações: de apoio, de repúdio e de incertezas. Reflete exatamente a cara do eleitor brasileiro. Entre os dois candidatos não existem pontos de convergência por conta de suas ideologias opostas. O eleitor-leitor refletiu bem isso nos comentários nas redes sociais. Desde a agressão pessoal, passando pela desqualificação profissional até questionamentos sobre a minha  honestidade.

Não critico os leitores. Acabou sendo uma oportunidade pra medir a tensão eleitoral. Intolerância, ódio, desinformação, indiferença e paixão. Penso que esse tipo de sentimento vai chegar junto com o eleitor  na boca da urna. Alimentará o voto e as atitudes posteriores. Lembro aqui. No dia 27 de outubro de 2014, após a apuração da eleição presidencial, Dilma Rousseff reeleita pra presidência da República veio a público fazer um pronunciamento.

Havia ganhado eleição com 54 milhões de votos contra 51 milhões do opositor Aécio Neves. O país estava dividido nas cores vermelha e azul. Esperava-se dela um pronunciamento de pacificação em favor do Brasil. Ideologias e governos passam, mas o país e sua população permanecem. O que ela fez foi acenar com a perfeita divisão do “nós” e “eles”. Estabeleceu-se a guerra depois das eleições. Em 31 de agosto de 2016 ela não passou no impeachment e caiu.

O ambiente político desde então tem sido de guerra ideológica e de guerra política. Desaguou em 2018 e vai permanecer com imensa ruptura entre a sociedade e a política. O ambiente político de 2019 em diante será da pior qualidade até uma lenta pacificação trazida especialmente pelo amadurecimento da sociedade. Leva muito tempo educar uma sociedade complicada como a brasileira.

Por isso, o título deste artigo. Muitas rupturas até o dia em que sentimentos como ódio, ressentimento, intolerância não votem mais nas urnas eletrônicas dos próximos governantes.

 

Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso

onofreribeiro@onofreribeiro.com.br   www.onofreribeiro.com.br          



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