Há filmes que ficam mais interessantes com o passar do tempo. É o caso de ‘A pele que habito’, de Pedro Almodóvar. Questões ali enfocadas ganham uma nova dimensão e, tratadas originalmente em 2011, apresentam agora uma nova dimensão, que envolve desde a medicina à ética.
Antonio Banderas interpreta um cirurgião especialista em transplante de rostos. Além do seu amplo conhecimento, se vale de técnicas transgênicas proibidas para mergulhar num universo de ações discutíveis, para dizer o mínimo, que envolvem desde manter pessoas prisioneiras a operações de mudança de sexo sem consentimento do paciente.
A grande pergunta que é colocada pelo cineasta espanhol, nesse filme que toma como ponto de partida o romance baseado no romance Mygale (1995), publicado posteriormente sob o título Tarântula (2005), de autoria do escritor francês Thierry Jonquet, está nos limites da ciência e do bom senso.
Não basta ter a técnica e o saber fazer se não se tem uma postura ética adequada, colocando os valores individuais acima daqueles da coletividade. Ser cientista é, acima de tudo, trabalhar para o conjunto da sociedade, tornando qualidades individuais benéficas para um todo.
Dominar o saber e usá-lo para si mesmo é vestir pele de cordeiro numa alma predadora. Não existe um cientista digno dessa denominação que possa pensar assim.
Oscar D'Ambrosio, mestre em Artes Visuais e doutor em Educação, Arte e História da Cultura, é Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
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