• Cuiabá, 29 de Março - 00:00:00

Aos meus camaradas (velhos e novos)

Filiei-me ao Solidariedade na última terça-feira (13.03), após 33 anos de estada no PCdoB. Confesso que se não fosse uma decisão um tanto pensada, refletia e examinada, não teria dado conta.

O PCdoB tem uma importância fundamental na minha vida. Me filiei em 1985, aos 15 anos, tão logo o presidente José Sarney assumiu o cargo, após a morte de Tancredo Neves (eleito de forma indireta pelo Colégio Eleitoral – sessão conjunta da Câmara e Senado).
Com tão pouca idade, mas com uma fome voraz de envolvimento em algo que fizesse sentido em minha vida, fui um militante aguerrido, que aprendia com os grupos de estudo, com a bibliografia teórica, mas também com a militância prática, num período de transição da ditadura para a democracia, no qual era mais fácil declarar-se de esquerda ou progressista, conquanto, por outro lado, também era mais fácil ser perseguido ou combatido pelas mesmas razões.
“Comunista come criancinha”, “comunista levanta saia de freira”, “comunista toma a sua casa”.... eram parte da campanha anticomunista que enfrentávamos. Ah, mas como era fácil e confortável combater tais distorções. Pela força da convicção e do entusiasmo!

Aqui entra algo que desejo falar aos meus camaradas, do PCdoB e do Solidariedade: só abracei na minha vida causas sobre as quais tive convicção. Nem sempre a convicção advinda do exame acurado e do entendimento profundo do processo, já que, com pouca idade e um conhecimento ainda raso, muitas dessas convicções foram construídas pela confiança nos meus líderes, mentores ou influenciadores diretos. (A verdadeira convicção, contudo, deve ser lastreada no conhecimento profundo, nas considerações das contradições, no exame acurado, sempre admitindo que podemos estar errados!).

Aqui entra a segunda mensagem aos meus camaradas, velhos e novos: não podemos seguir um líder que negligencie sua liderança, que não seja ele próprio uma referência da convicção que devemos ter, que não tenha solidariedade, que não considere os potenciais e as limitações de seus liderados, que não tenha um tanto de amor e carinho a oferecer, sob pena de nos tornarmos massa de manobra para interesses outros que não aqueles que, conscientemente, optamos por abraçar.
Sempre tive dificuldade de aceitar verdades prontas que não me dessem a chance de de dúvida e compreensão. Por essa razão, creio, nunca fui um militante dogmatizado ou fanatizado, que fazia algo apenas porque alguém mandava fazer. Não se trata de desobediência. Antes, ao contrário, trata-se e tratava-se de ser convencido para ser convicto.

Nunca idolatrei João Amazonas nem Elza Monerat (a quem votei contra a permanência no Comitê Central no último congresso do qual participei), mesmo assim são figuras importantes para o PCdoB e o movimento comunista internacional que sempre mereceram e continuarão merecendo meu mais profundo respeito, por exemplo.

Porém, ao deixar o PCdoB, devo expressar toda a minha gratidão aos meus camaradas do passado, e fazer um reconhecimento público à liderança exercida na minha vida pelo Doutor José Marques Pessoa, o Zé Pequeno, ex-pro-reitor do Campus da UFMT de Barra do Garças, onde comecei minha caminhada na militância política.

José Pessoa foi, para mim, um grande líder, um inspirador, uma referência, um exemplo. Exerceu, para mim, a figura de pai, de tutor, de mentor. Alguém que desejei ser quando crescesse! O PCdoB e o José Pessoa influenciaram determinantemente minha personalidade, meus valores e minhas convicções. Tenho por ambos uma gratidão que levarei ao túmulo.

Cheguei ao PCdoB em busca de respostas que não encontrava noutros ambientes, nem na igreja católica, na qual fui batizado!
Saio do PCdoB em busca de outras respostas que o materialismo histórico, o ateísmo e o marxismo não me deram. Algumas já estou obtendo, por meio da minha reespiritualização, o que me dá paz e a convicção dos justos: o que significa, ao menos para minha compreensão, reconhecer meus erros e acertos de forma honesta e insofismável, reconhecer as colheitas que fiz e terei de fazer em razão dos meus plantios - porque não se mente para si mesmo quando se tem autoconsciência.

Não tenho mais expectativas grandiosas com a política ou com os partidos. Já me frustrei o suficiente! Porém, mantenho uma expectativa real, advinda de mais de três décadas de militância, do que política e partidos podem ainda representar para as necessárias transformações e conquistas sociais a cada tempo histórico.

Portanto, chego ao Solidariedade mantendo minha coerência ideológica e seguindo um líder ao qual reputo deter as qualidades necessárias para eu segui-lo, para ser uma referência quando me faltar acúmulo para extrair minhas próprias convicções, pela saúde e verdade de seus princípios, que é o prefeito de Rondonópolis e ex-deputado José Carlos do Pátio. Um amigo, acima e antes de qualquer outra importância. Com o tempo de caminhada que já tenho, me reservo o direito de escolher meus amigos e meus líderes, enquanto julgá-los merecedores, e sou grato àqueles que me escolhem, também por meu merecimento.
Já fui militante que acreditava que, primeiro, vinha o partido, depois a minha vida - se possível! Isso aprendi no PCdoB, e encarna valores como lealdade, comprometimento, honestidade. Saio do PCdoB, mas sem abdicar desses princípios e valores, porque as coisas bem-vindas, como diria o poeta, muito mais que findas – essas ficarão! Porém, a partir de hoje serei um militante que crê que, primeiro, vem a minha vida, meus filhos, minha paz de espírito, e, depois, as causas coletivas que possa abraçar, inclusive o partido.

Por derradeiro, devo dizer que chego ao Solidariedade como militante, e não como Secretário de Estado, dirigente ou candidato. Essas condições estão no por vir, se virem!

Gratidão a vocês, meus velhos camaradas - pela convivência e aprendizado! Gratidão pela acolhida, meus novos camaradasj! Sigo no caminho da luz, paz e amor!



Kleber Lima é jornalista pós-graduado, pesquisador e consultor de comunicação e marketing político-eleitoral, exercendo atualmente a função de Secretário de Estado de Cultura do Governo de Mato Grosso. E-mail: kleberlima@terra.com.br.



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