• Cuiabá, 28 de Março - 00:00:00

Dona Maria Lygia e Gabriel

Recebi nesta semana um delicado telefonema de Dona Maria Lygia de Borges Garcia, queridíssima amiga, esposa do meu querido amigo José Garcia Neto, ex-governador de Mato Grosso por cujas mãos vim parar aqui no distante ano de 1976. Semana passada recebi outro telefonema igualmente carinhoso, do primeiro reitor da Universidade Federal de Mato Grosso, o médico Gabriel Novis Neves, outro querido amigo. Ambos ligaram pra agradecer e comentar artigo que escrevi recentemente sobre a passagem de dois cuiabanos ilustres: Aecim Tocantins e Rômulo Vandoni. Sem contar que também me ligaram pelo mesmo motivo e pra uma agradabilíssima conversa Marcia e Adriana Vandoni, filhas de Rômulo e Mário Luiz, filho de Aecim.

Foi inevitável transportar a conversa de Dona Maria Lygia pra esses 41 anos em que vivo em Mato Grosso. Quanta história passou. Quanta gente ocupou importantes espaços em todos os setores, como ela, o Dr. Garcia Neto, Gabriel e Rômulo. Muitos outros se foram e deixaram uma passagem digna e honrada. Mas a História tem lhes negado o benefício da memória. Comecei vendo o governo Garcia Neto lutar contra a divisão do Estado e sofrer punições políticas severas do governo federal militar da época. Vi Frederico Campos, seu sucessor e primeiro governador pós-divisão, lutar desesperadamente pra viabilizar o estado que resultou da separação.

Vi os governadores seguintes, cada um com a sua luta e com as lutas do seu tempo. Todos ocuparam os seus espaços e estão aí como personagens vivos daquelas memórias. Mas a História tem lhes negado o seu espaço. Gabriel Novis Neves, outro personagem honradíssimo, foi o primeiro reitor da UFMT no tempo em queos executivos assoviavam e chupavam cana ao mesmo tempo. Eram homens e mulheres multioperadores nas suas respectivas funções. Hoje a UFMT é uma universidade madura seguindo as suas escolhas. Gabriel usou uma expressão dolorida em nossa conversa: “sou um morto-vivo”, certamente lamentando a memória que lhe é negada.

Depois de ter falado com Dona Maria Lygia e com Gabriel Novis, confesso que fiquei muito abatido. Fantástica a história desses 41 anos que assisti. Pessoas como eles e os de sua geração saíram da História porque a educação e as universidades negam-lhes a memória. O burríssimo conceito do ex-presidente Lula “nunca antes na história deste país” atingiu a educação brasileira como um meteoro. Vai demorar pra recuperar a noção de que o ontem resultou no hoje, e ambos resultarão no amanhã.

O mesmo esquecimento aos fazedores do ontem atingirá os fazedores do hoje e todos correrão o  inevitável risco de serem ninguém amanhã.  De qualquer modo a prosa com Dona Maria Lygia, com Gabriel, Marcia e Adriana Vandoni, Mário Luiz foi enriquecedora. Apesar de tudo a mediocridade não matará a História!

 

Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso

onofreribeiro@onofreribeiro.com.br  www.onofreribeiro.com.br         

 



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