• Cuiabá, 28 de Março - 00:00:00

De apadrinhado

Lula e Aécio viraram símbolos da corrupção nesta Ilha de Vera Cruz. Sobre o primeiro são apontados os dedos do moralismo do MBL. O outro é lançado à jaula dos leões pela esquerda festiva. Com a mesma intensidade da acusação ao desafeto, esses dois grupos defendem seus protegidos. São Lula Guerreiro! Santo Aécio das Alterosas!

A nenhum acuso com veemência nem concedo a absolvição do meu modesto julgamento cidadão. Reitero e não me arrependo: votei no Santo de Minas nos dois turnos para a Presidência; dos males o menor. Nunca cometi tamanha heresia nos incontáveis pleitos disputados pelo angelical bípede nordestino, por puro convencimento ideológico, que não digere bem a questão da esquerda, ainda que festiva.

Avalio que a situação política do país pode ser comparada ao furúnculo que lateja. Terá que ser extirpada jogando pra fora seu conteúdo fétido. Isso acontecerá pela ação do Ministério Público em suas esferas e o Judiciário. Com esse desfecho que imagino, o Brasil mergulha no dia seguinte. É aí? Como fazer com a vida pública a começar pelos municípios, que é onde o cidadão vive?

Imaginemos que no amanhã não teremos mais corruptos no poder. Como tocar a viciada máquina pública que se perde no meio e não chega como deveria à atividade-fim? O vibrante MBL e o radical lulismo cortarão na carne na hora agá de se fazer a verdadeira reforma do Estado, sem a qual não iremos a lugar nenhum?

Somos o país da mamata, dos interesses grupais. Somos oportunistas desde Pêro Vaz de Caminha, que mal desembarcou da nau de Cabral mandou carta ao rei em Portugal pedindo uma boquinha para abrigar parente na burocracia da Coroa. Será que o pai que conseguiu botar a filha burra na Assembleia concordará com sua demissão em nome da reforma que precisamos? E aquele cunhado trapalhão que ganhou um DAS de um vereador de olho no peso eleitoral do marido de sua irmã? Será que o desmame daquela figura seria bem aceito?

O Brasil dos grupos, de instituições e dos esquemas brinca de protestar da boca pra fora. Pra essa gente é preciso que a roubalheira continue, que surjam escândalos, que tudo aconteça na esfera em Brasília, mas que a moralização não chegue aos seus interesses, porque isso são outros 500. São paladinos da moralização superficial.

Longe da acidez crítica ou do afago desmesurado aos dois santos, distante do Fora Temer e de discursos análogos a tais comportamentos precisamos criar uma corrente popular suficientemente forte pra botar fim ao palacianismo em Cuiabá, ao inchaço da máquina pública que é visível na chegada e saída dos incontáveis carrões que levam os felizardos para o exercício da inutilidade nos poderes e seus penduricalhos nesta terra de gravações e coisas graves. É fácil botar as mãos nas ratazanas. Difícil será o desmame apadrinhado.

 

Eduardo Gomes de Andrade é jornalista

eduardogomes.ega@gmail.com



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