• Cuiabá, 29 de Março - 00:00:00

Cem dias de 4 anos

Quando fui prefeita, não imaginei que após os cem primeiros dias da minha gestão me sentiria tão frustrada, mas eu não poderia demonstrar essa frustração, pois um líder não pode demonstrar suas fraquezas, pensava. Venci as eleições com 68% dos votos, e isso gera uma energia incrível para transformações e realizações. A sensação de impotência surgiu com tamanha demanda que a população me cobrava e as cobranças eram inclusive de amigos. 

Sentia que eu poderia ter feito mais, mas não entendia por que tudo o que eu fazia parecia ser invisível aos olhos que não fossem os meus próprios...

Percebi que alguns prefeitos haviam realizado muito, inclusive haviam feito divulgações de seus primeiros cem dias de sucesso, com obras inauguradas e grandes realizações governamentais. Muitas pessoas entendem os “fatídicos cem dias”, como um presságio da gestão que virá...

“MOSTRE-ME COMO FORAM TEUS PRIMEIROS CEM DIAS QUE EU TE DIREI O PREFEITO QUE ÉS E COMO SERÁ TEU MANDATO”

Agora pare e reflita!

É possível medir uma gestão e o perfil do gestor por alguns dias, como se os primeiros cem dias de seu mandato fossem exatamente iguais aos próximos mil trezentos e sessenta?

Como eu sempre fui muito resiliente e inquieta, procurei entender por que eu havia me frustrado.

Investi em mim e no meu autoconhecimento, no meu desenvolvimento pessoal, pois havia sido eleita para aplicar meus conhecimentos e habilidades na gestão municipal. Foram minhas capacidades de comunicação e de acreditar que é possível fazer a diferença na vida das pessoas através de políticas públicas que motivaram as pessoas a confiarem em mim e me eleger.

Como organizar seus projetos se você não sabe se organizar? Como bater a meta se você não sabe definir uma meta específica, mensurável, alcançável e temporal? Como ter paciência se pra você só existe o debate? Como fazer uma plantação em um terreno infértil? 

Gerir uma cidade inteira é como reger uma orquestra: o violino não pode estar mais alto que o trompete e as flautas não podem estar em desarmonia com a voz, o solo não pode ser interrompido por um tambor. Cabe ao maestro harmonizar cada tempo, cada melodia, cada momento. É um trabalho imenso, delicado, intenso, porém belíssimo. Responda para si mesmo: de 0 a 10, o quanto você "realmente" se sente pronto para reger a sua orquestra?

Nessa busca pelo autoconhecimento, conheci meus pontos fortes, descobri meus pontos de melhoria e aprendi a desenvolver um planejamento com grande envolvimento de secretários e servidores para atingir metas de curto, médio e longo prazo, parece utopia. Mas é possível!

Quando você tem visão clara do que você quer entregar no mandato de 1460 dias, você desenvolve melhor o planejamento e quando você se conhece é mais fácil entender e reconhecer o comportamento das pessoas que te cercam, desenvolver seu plano de governo focado e conseguir entregar mais do que as pessoas esperavam. Isso é alta performance!

Diversos casos de sucesso que são utilizados como um modelo por diversas prefeituras foram realizados em alta performance e eu acredito e digo: acreditar que sua gestão pode ser de alto nível de entrega de obras e projetos é o primeiro passo para agir em direção ao seu próprio desenvolvimento.

Se tudo isso faz sentido pra você, convido você a conhecer refletir sobre a seguinte frase: se as politicas são desenvolvidas por pessoas, para atender pessoas, se você não entende de pessoas será que você entende de política?

Não entender de pessoas em um cenário deste é o mesmo de um agricultor tentando plantar tulipas em solo de cerrado e cana em ambientes muito frios. Ele olha pra tulipa e para a cana e não entende por que não está dando certo. Ele colocou adubo próprio, tem as melhores máquinas, a melhor equipe, as maiores fazendas e mesmo assim as plantas sempre morrem. Onde você está plantando sua tulipa? 

Quanto mais nos conhecemos, mais realizações conseguimos concretizar.

Sempre confie em seus instintos e desenvolva suas habilidades e competências.

Saber seus pontos fortes e não usar é ter uma Ferrari andando a 40 km/h em uma estrada sem limite de velocidade. Saber seus pontos de melhoria e ignorá-los é estar andando em uma Ferrari com pneu de bicicleta, estando convicto de que não faz diferença trocar o pneu. 

O meu desenvolvimento pessoal foi o fator de maior importância para o desenvolvimento da minha gestão e do meu município. 

“O analfabeto do século XXI não será aquele que não sabe ler nem escrever, mas aquele que não consegue aprender, desaprender e, no fim, aprender de novo.” – Alvin Toffler

 

Sol Kreidloro - Coach - membro da diretoria da Associação Brasileira dos Municípios, ex-prefeita de Nova Bandeirantes-MT



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